Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Pelo Medo, Por Receio


Vamos dar as mãos
e abraçar esse medo que temos
de nos olharmos
Para pormos a verdade na mesa
Assumindo nossas omissões

Declarando a falta de vontade, digo coragem
não nos encontramos,
fora o receio do coração
Devolva meu livro que você tem guardado
Pois estou levando aquele seu filme emprestado

Se é isso que você realmente quer,
parei de lutar contra o esquecimento
Sem palavras dolorosas
Deixamos tudo aconteceu por dentre nossos olhos cegos,
que viam a perdição silenciada
do nosso conto de fadas

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Sobre Dois Poetas


Atravessando as rimas, criadas
para revelar um sentimento camuflado
Dois poetas se encontram
Para declamar o amor que no peito bate
da fidelidade do adultério

Até para seus criadores
as palavras se tornam magníficas
Sentem a verbalização da emoção
aclamada pela vibração dos corpos
que no contato forjado
do atrito das mãos
apenas deixa uma única sugestão

Suas histórias e sentimentos
Entre memórias e poemas
nas fotos, no coração
no papel, na imaginação
Tudo registrado
Para deixar viver, marcar
Todas as brigas
Todas as conquistas
Cada encontro
Cada despedida

E tudo se finda pelo olhar
No gosto do beijo
Com o aperto de mão
O nosso cheiro no ar
Os lábios se aproximando
Naquele abraço...
que leva,
que carrega,
que intima
o coração...

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Clamo


Vamos calar nossos ouvidos
E ouvir um pouco mais os nossos olhos

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Procurando Algo Para Provar que Existo




A inspiração tirou férias
Se esvaiu num pequeno segundo
Sem coisas importantes para se narrar
me resta apenas um chão,
tão vão, tão sujo
onde deposito sofridamente
o desespero de algumas ausências

Com uma pacata vida se arrastando
por dentre os pilares mal iluminados do acaso
Esqueci de prever nosso futuro
que sozinho caminha, rápido...

Varando aquelas árvores
que cortadas pelos riachos da partida
Vejo se esvaírem nossas lembranças
que insistimos em não deixá-las,
em não deixá-las seguir
sua trajetória natural
do esquecimento, da distorção

Procurando algo para provar que existo
Escolho a escrita:
Voz calada
Insípida
Atônica
Por vezes...
ferina...

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

(Des)controle


O que fazer quando não se tem mais o porquê de escrever poesia?
Quando o mundo se torna pequeno,
os sonhos mesquinhos,
onde os passos monocromáticos de uma cor opaca,
que – aos poucos se instala –
na vontade que nada afaga nos consome?
Os discursos repetidos
Na mesma agonia do instinto
Para um fim libidinoso
A carne, o suor, o toque, o reparo
A pessoa que não cumpre as teorias
age pela prática contrária
é carrasco de sua vontade descontrolada

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Há Tanto Tempo




E quando foi a última vez que eu pus um cigarro na boca?
Que tomei uma atitude correta?
Que trilhei caminhos seguros?
Passando por aqui
repetidas vezes
Esqueci o que pensar
Com minha consciência se diluindo
pela jornada da traição
Cadê você que não volta?

Nesse meu coração, impiedoso,
por vezes ameaçador
procuramos, eu e você,
um canto para depositar nossas esperanças
Mas nem eu o encontro
E você apenas observa minha perdição

...ansiosamente...

Pego o pincel e tangencio nossos encontros
Pinto a ponte do desejo
Nessa tela de marfim,
negra e fria
que nada risca,
que nada demonstra

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Assim Eu Me Sinto Bem Melhor


Se você quer que eu parta
Eu sigo, por aquele caminho que você me indicou
Mas vou devagarzinho, amor
Olhando para trás
Olhando para os seus olhos
Para ver sua reação
Para te lembrar daqueles momentos juntos
Para te lembrar quem somos nós
E com esses laços desatados...
Numa mão levo a saudade
Na outra, teu coração...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Oh Baby


Oh baby, até quando você vai ficar me escondendo,
me escondendo tudo o que acontecera ontem?

Quais coisas importantes você fora fazer?
Qual drink você tomou?

Qual hora, qual hora, honey, você voltou?

São esses compromissos, inusitados?

E você não tinha dito que naquela noite era...
que naquela noite era só minha?

Houve um encontro, não?
Pode me dizer
E estou sentindo que esta estrada está se entortando

Estou sentindo isso, sim, baby
Você estava tão diferente hoje

Foi aquele seu amigo
aquele canalha
aquele das lágrimas, não foi?

Oh baby, realmente eu não sabia o quanto eu gostava de você
Oh baby
Baby nooooooooooooo...

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Sobre um Evento


Observar a sua vida
Prender-me aos mínimos detalhes,
de quem contigo fala,
de como você os responde
Quais são as suas intenções?
E aonde você chegará?
Transpirando essa insegurança
Vou me maltratando,
ao ler nos seus olhos,
o maquiavelismo de meu pensamento


Sua solidão massiva
Seu temperamento afetivo
Será assim com todos?
Ou é só pra me redimir?
Essa necessidade de pessoas
A popularidade de seu nome
As palavras largadas,
injuriosamente faladas
Ferindo mágoas recentes
De um coração dividido
Pela incerteza da dúvida
Pela não cobrança do descompromisso
Nos meandros de algum sorriso

sábado, 15 de novembro de 2008

Eu e Você

Parece que tudo que me rodeia cria vida
Os toques mais simples tornam-se os nossos protagonistas
O cheiro nascente do contato precipitado
E chegamos à beira mar
A lua já está bem alta
Naquele porto
As águas paradas
Essa madeira velha
Esses pensamentos incontroláveis
O sentimento singular
E eu vou escrever para você, por você
“Vai?”
“Vou”
A maré seca, encheu
Aqueles faróis estão desligados
O vento deslizando,
rosnando a sussurros sua canção,
choca-se com o calor interno de nossos corpos
E é difícil escolher qual caminho seguir
E eu te pergunto: dá para parar de ser tão universal,
ao ponto de me fazer lembrar de você
em tudo que vejo, toco, sinto?
Nos livros que não mais me perco,
já que meu mundo imaginado
se perde fora daquelas páginas
Que se encontra na encruzilhada da partida
No condensamento do suor
No sofrimento da distância
Eu e você, sem o porquê
Sem nos entendermos
Apenas por ambicionar
Movendo nossas montanhas
Superando nossos medos
Criando novas barreiras
Sangrando o nosso sangue,
gota a gota,
por nossos desejos

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Queda


Ouvindo as mesmas palavras
Essas suas promessas
Acho que já vi isso antes
em algum filme
em algum conto
Os exércitos a postos
Vamos erguer nossas lanças?
Quero participar deste livro
Vou morrer a morte ideal
Viver o personagem mais bonito
E eu não tenho medo
Não tenho medo de te perder
De fingir te perder
Realmente eu te quero muito
Para te guardar numa porta-volume
para transpirar
para te deixar escorrer
no ralo da cozinha,
no fogo
na cor
no azul,
nesse preto...

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Poeta


O poeta que escreve não é o mesmo que vive
Não é o mesmo que declama
Não é o mesmo que aparenta ser
É a distância do modelo perfeito
Não se assemelha com ninguém
Não encosta a cabeça no mundo
Transpira injustiça
É egoísta
Não pensa nas conseqüências
Não procura explicação
Corre atrás das perguntas
Não se importa com os “outros”
Necessita de seu ofício,
o faz por obrigação,
por auto-flagelação,
para auto-punição

Em Alguns Momentos



Tão distante daqui
Dedilhando o chão
Meu violão ainda soa
Esse senil caminho
Pelas mesmas estradas
A Turner da esperança
E os galhos das folhas estão envelhecendo
Aqui, sem você
Com um copo na mão
Meu papel
Meus pensamentos
Meus erros
Escrevendo para você
A história se repete
Sem controle
Longe de mim mesmo
Essa estrada está mais distante,
você não acha?
E a lua que não pára de brilhar
Você é tão indelicada
Sequer me pergunta o que eu acho de tudo isso
Mas ta tão frio
Estou novamente aqui, sozinho

sábado, 8 de novembro de 2008

Andando na Contramão


Todos esses erros
Imerso nessa vontade
E amar quem não afaga
Se entregar para quem te dá as costas
Trazer rosas para quem de tulipas gosta
Por o peito a mostra por quem te despreza
Para fazer tudo valer à pena

Fazer promessas para togas compradas
E não vou voltar atrás
Pisar na esperança que ainda agoniza
Será mesmo que é a última a morrer?

E continuando, e correndo
Não vamos perder mais tempo
Tudo passa tão rápido
E são por esses corredores que tudo passa?

E insisto em não te ver
Talvez você esteja se escondendo
Não uso meus óculos como deveria
Está penumbra tem culpa

Apunhalando a carne doentia
Ouvindo a dor se dissipar no silêncio
que você insiste em manter
Não quero compartilhar de nada
Sua bilheteira está em crise
Ninguém mais se interessa por teatros
As poesias são passa-tempo
É essa sua dor que é apenas inspiração

Você luta para não deixá-la ir embora
E, mais uma vez, você passa por um papel humilhante
Não está em tempo de desistir, minha criança,
se perguntam todas as mães
Mas você nunca pára quando se deve
E essa droga está te consumindo
E essa droga está te denegrindo
Que tal parar por aqui?
Você ainda tem força?

Filho, a vida é em demasia longa
Cada sofrimento, cada felicidade, cada despedida
Tudo é momentâneo
Vamos ao parque
Que tal comprarmos umas balas?
Balas que nos deliciam
Balas que nos matam

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

A Você me dirijo


Por esses poemas
Por meus pensamentos
Um perdido se desencontra
E as ameaças retornam
Mas quem se importa?
Em tempos em que pouco se tem a perder
insuficiente é o medo
E andando, sem respirar, sem procurar
Nos batemos sem sabermos quem somos
Criando causas pequenas
Tão sem importância
Mergulhamos neste mar
Desconhecido
E não existe a “nossa canção”
E não existe essa junção
O mundo imaginado se dissolve
As fantasias açucaradas, saboreadas
Mas apenas nesta terra distante,
onde não se deve busca o fim,
esperamos que ele venha ao nosso encontro
O anonimato, virtude dos maldosos
dos inseguros, dos inexistentes,
se reproduz
E onde está você que não se mostra?
Quais são os dedos que vertiginosamente escrevem tantos “poréns”?
Qual insanidade você alimenta?
E essa crença de ter todos em suas mãos
Você realmente acredita?
Realmente acredita que é capaz?
Capaz de decidir qual caminho rumar,
e o que fazer quando os balões escaparem a suas mãos?
Sinceramente, é válido entender as pessoas?
Para que?
Para crucificar a surpresa de cada encontro?
Para adivinhar como elas agiriam?
Para evitar o sofrimento?
Prefiro minhas dores
Meus porquês
Minhas dúvidas
E isso é uma crítica
A todos vocês, cientistas do sentimento:
guardem suas fórmulas
joguem seus experimentos ao mar
Me deixe sozinho
Abandonem minha vida
Esqueçam as minhas marcas

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

A Piada que Sou


E pergunto aos céus
Que irei fazer,
se as frases que realmente gosto
não foram escritas por mim

Copio para me expressar
Repito os sofrimentos
Procuro os mesmos instrumentos
para problemas tão diferentes

Escrevo para esquecer
Me embriago para sublimar as angustias
E mais uma vez eu não pude dizer o que sinto

Recorrendo a eruditos,
que perdidos como eu
plantavam seus desesperos no papel
criei outro cenário para burlar a trama que agora transcorre

Quando é que criarei coragem, inspiração, bondade
para te dizer,
com minhas palavras,
a verdade sem máscaras,
encenada
com maquiagem
nesse meu rosto pintado
de vergonha, de medo,
que é minha piada?

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Desfecho




Na mesa, a toalha branca
maculada de sangue
escorrendo pelas beiradas,
deixa um pedaço do mármore aparecer na cabeceira
O prato com uma fatia de bolo, mantém estático o cenário
Os talheres a espera de uma utilidade
O copo, com vinho, trincado, sujo
A faca no chão
O cachorro deitado, parado, observando
O ventilador de teto na inércia do brando movimento
O corredor com uma lâmpada acesa
Do outro lado o cinzeiro,
com sua visita: o cigarro
consumido pelo calor e pelos pulmões de um dependente
Dele só restam dejetos de milhões de substâncias carbonizadas
Pela janela a brisa traz esperança
A vida se arrasta
E nesta casa, pouca coisa tem explicação
Entre ser um sujeito dissolvido
Prefere-se ser um efervescente
para fervilhar/efervescer toda a essência
e apagar de uma só vez
essa existência de caráter duvidoso
num caminho sem voltas
Vida mais de idas, que de voltas
Fora essa a vida do suicida daquela casa
Casa agredida pela parcela social que, voluntariamente, se oferece para a morte
Que soltando cada pedacinho de seu sentimento
Encontrou um vazio
Difícil de se elucidar
De uma vida vivida para morrer
Num caminho da perdição
De uma criança
sem pai,
perdida,
na aflição

Um Recado


E eu sou a o motivo de suas poesias
Só por mim
E o que você vai fazer agora?
Recados rasos, planos, incolores
Não diz nada
É o coloquial
Todos dizem o mesmo
Sentem esse lixo
Você não será mais a mesma
Seu mundo tão grande, tão pequeno
Sua música, sem tempo
Ausência de ritmo
de sentimento
Não humana,
sua vergonha
Decrescente,
palavras secas,
sem prática,
Teóricas
Que merda é essa que você me apresenta?
Que sensibilidade é essa que você tem?
Que recessão você criou?


sábado, 1 de novembro de 2008

Entre algumas verdades, entre algumas mentiras


O medo de perder quem se quer para sempre
O perigo rondando cada passo descompassado
Sua foto em minha estante
Sua roupa em meu armário
Você realmente me inspira
Agonia incessante
Hecatombe do perigo
Holocausto de minha vida
Suas lágrimas abrem seu rosto
Rasgam sua carne
Deixa cicatrizes
Denuncia sua solidão
Talvez você devesse acabar comigo,
se encostar ao meu peito
e esquecer todo o nosso risco

domingo, 26 de outubro de 2008

Às Vezes Realmente Eu Penso Isso

To aprendendo que é necessário aprender a se anular
Mas que também é necessário anular quem se ama
Saindo aos pouquinhos, de fininho
A solução dos covardes
dos medrosos
Espelho do tormento
Versos obscuros
Dor reprimida
Olhos perdidos
Vontade extinta
Você não se afasta
Você não se aproxima
Não me afaga
Não me denuncia
E eu, aqui, pensando em você
No que fazer
O que você está tramando?
E, às vezes, eu realmente penso que você não se lembra de mim
Você se esconde
Foge
Corre
Aspira sua vida da minha
Traga todo meu sentimento
E se vai
E me faz promessas
Eu espero todos os dias
Esperei um dia inteiro
Você não me avisou que ia partir
À noite não me bastou
A madrugada está se acabando
Hoje eu não saí
Aqui fiquei
Apodreci
Sem você,
sem mim

sábado, 25 de outubro de 2008

Quixotesco



Nesta história, eu sou o Quixote
Perdido na ilusão
Sem caminho para começar
Com moinhos pra combater
Fazendo de minha vida uma Cruzada,
uma besteira
Carrego uma bandeira que não vale nada
Salvo, algumas gorjetas

Com um escudeiro blasfemador
Que revela meu mundo profano aos deuses
Vivo na espera de um herói, de fantasias
Mais uma vez você fugiu, sem explicação
Meu burro alazão empencou
Meu rosto de palhaço à revelia,
você cuspiu
Fez dele o que queria,
Partiu...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O caminho para algum lugar


Quando o céu resolver cair
Você vai encontrar um caminho de volta
Os crucifixos estão sendo quebrados
É essa vida que se arrasta
Drogas para esquecer o subúrbio de nossos corações
Ópio para estacionar essa fome de desejo
Estou cantando a nossa canção
As árvores mortas são para você, querida
As sementes envenenadas, para mim
E se continuássemos vivos?
Os bebês ainda virão
Nosso futuro realmente estancou
É essa estrada muito esburacada
Minhas pernas, recém-mortas
Teu sorriso, por demais, triste
Nossas mãos não estão dadas
Você está de costas
São meus pulmões enegrecidos
Que não tragam mais a vida que você respira
É meu coração partido, que partiu
Que dissipa o teu amor
Sozinho neste escuro
Queimando cada papel escrito
Às vezes me rasgo
Em cada palavra de amor
Mas os padres não estão aqui para me ver
Queira, por favor, ligar a televisão
É tudo isso que me corrompe
São os meus amigos
Sou eu mesmo
Gostaria de estar com você
Talvez assim eu entendesse como meu câncer se alastrou
Abonar cada falta, como se nunca estivesse acontecido
Negar todo encontro errado
Lembrar os momentos felizes
Mas minha memória já não me ajuda
E quando é que vou parar com tudo isso?
Afaste-se de mim
Deixe-me caminhar
Neste maligno atalho
Escolhido sem compromisso
Escolhido sem mim mesmo, sem você
Que fora indicado por aqueles que partem
Sem sentir o vazio daqui
Desprezando esse nada que brotou
Nesse agente da dor
Na experiência de existir

domingo, 19 de outubro de 2008

Genealogia de um Perdido


Na Genealogia da existência,
de uma existência,
da minha existência
Tento encontrar
Algo para te dizer
De onde provém tudo que me criou
Tudo que me formou
Não me restam palavras
Apenas tiro do bolso pequenas e irrisórias metáforas
Rasas, profundas, jogadas
Você não me entende
Tudo que escrevi fora o que não sou
Foi o que fui
Foi o que me restou

Você não vai me deixar partir!
Na esquina daquela praça,
minha dívida se estende
para fronteiras desconhecidas
da tentativa de entender
o que faço por impulso
o que fiz por tesão
o que vou continuar fazendo por paixão
Mas em toda essa caminhada,
me mantenho perdido
afogado no meu próprio abismo
guilhotinado por meu destino

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um Dia de Trabalho


Envolto de luzes padronizadas
Com o radiador vibrante
Todos olham para o relógio
Clamando para que o ponteiro ande
Sento-me numa máquina
Diferente pelas mesmas diferenças das demais
Sozinho, dentro de uma sala
Com a chuva que passa lá fora
Deixo o mais bonito se perder
Pela obrigação que há de se cumprir

Não existe nenhuma diferença
Todos lá têm um mesmo uniforme
Tudo se inicia em determinado momento
A regra é clara, só há tormento

Pego meu jornal e embarco num caminho sombrio
Sem caminho de volta
Retorno aos tempos da escravatura
Mas minha linda manhã está acabando
Perco a vida que caminha lá fora

O som ininterrupto do laboratório ecoa na minha cabeça
Tudo parece morto
Sem sentimento que os remexa
As cadeiras desocupadas
Aquelas lâmpadas queimadas
Não há coisa pior que a solidão
Quero sair desse inferno, são

domingo, 12 de outubro de 2008

Jogo de Interesses


E você conseguiu rasgar o bordado
Sobre efêmera companhia ,
me pergunto como vai ser
quando restar apenas o travesseiro

Enterro mais uma noite
mais algumas horas
mais pensamentos
E na aurora que desfalece a dor
num barco, sobre as trilhas do mar,
cavalgo num mapa desconhecido

Quem sabe algum dia eu me encontre
Quem sabe algum dia eu te encontre
Quem sabe algum dia nos encontraremos

Voltamos à estaca zero
Você me dispensou,
me iludiu,
me ludibriou
O vinho não mais me embebeda
Suas palavras: facetas, mutretas, gorjetas
Precisa-se de correção?
Receoso, desejo!

É urgente controlar o que se controla sem consentimento
Maquinar uma fuga
de tudo que monopoliza o sofrimento
de tudo que vazio me faz seguir
do seu coração perigoso que medo faz existir

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A alguém tão perto, tão longe


Brincando, apagando, pintando
E você vai partir?
As fotos de antigamente
O vento, a cadeira, o seu lugar
Quem irá preencher?
As conversas cotidianas
Nossos olhares trocados, pagos, doados
E os olhos do Estado cansarão?
Cada toque
Cada beldade
O sentimento marcado
E aquele poema que eu não li
O que você deixou por mim?
O que você não falou para mim?
Finjo que esqueci?
As desculpas meramente ornamentais,
Palavras criadas
As mensagens deletadas
Sua presença sempre esperada
Tudo fica na memória
Nada se dissolve
E você ainda quer partir
Mesmo sem mim

Seus pensamentos fervilham
E outros vêem o que a boca não deixa revelar
Todo seu tormento
Todo seu penar
Mas ninguém se lembra
Ninguém sabe os ventos que cá vieram soprar
Ventanias incontroláveis que (in)felizmente não tem previsão de cessar
No entanto, eu ainda tento
Desesperadamente te dizer
O quanto eu quero você
Perto de mim
Ouvindo o que meu peito errado não quer assumir
Que os medos amedrontados se obstinam de declamar
Para limpar toda carapaça de lama
que minhas roupas brancas
insistem em carregar
Só por palavras, porém, não encontro a minha mensagem
Tenho consciência de minha limitação
Mas por ora, essa é minha emoção,
minha vontade,
meu tesão

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Alguns Pensamentos


Mais uma vez estou aqui
Perdido, querendo achar
alguma saída deste lugar
que tanto me dói o coração
Frenesi perdido
Minha ilusão
Passos gastos de um pensador
Memórias esquecidas de um sonhador
Olhos mirando para uma realidade fictícia
Dedos tocando o veneno piedoso

Mergulhamos num mar de sangue
Os poros já estão abertos
Vamos continuar com esse martírio?
Na noite silenciada,
as promessas se quebram,
como se nunca tivessem existido
Os pés continuam caminhando
Sozinhos, só deixam marcas
Num passado que se distancia
Num passado que nos flagra

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Inspiração


Eu não sei o que essas mentes incessantemente cantantes
Vivem cantantemente pensantes
Na pensantemente possibilidade cantante
Eu não sei por que meu coração invariavelmente frágil
Vive fragilizadamente confuso
Na confusamente presença tua
Vivendo constantemente em ti
Aprendi intimamente em mim
Que posso viver em tu
Através, assim, do aprendizado fragilizadamente cantante
Passei a viver intimamente confuso
Na variabilidade da mente

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Mural


A poeira acumulada sobre lençóis amassados
de uma cama burguesa com aspirações de desejos
O ventilador corroído pela maresia
Os livros amarelados, nunca lidos
apenas guardados, esquecidos
As cartas nunca findas
Os pensamentos inacabados, errados, indecorosos
O incenso aceso para afastar o olhado
Uma “Espada de São Jorge” na porta de entrada
A mesa suja de refeições anteriores
contrastando com os pratos depositados na cozinha
por onde baratas e insetos povoam a escatológica ausência de vida
Os sapatos distribuídos pelos diversos cômodos
As roupas mais arrochadas, panos de chão
A TV ligada sem conexão, sem antena, sem fiação
A torneira aberta, desperdício
Lâmpadas quebradas,
sentimento magoado
Violão sem cordas
Não há música, alegria ou diversão
Ali jaz mais uma vítima
da melancolia incontrolável
Fardo das mega-populações não povoadas
Dos distritos sombrios do coração
De uma pessoa que morre em vão
Sozinha, sem atenção

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Reflexo


O que nos acontecerá quando a noite raiar
brotando dos medos sangrados da dor da perda,
moídos pela iminência da descoberta,
do amor desperdiçado pela aventura insegura?
O pensamento trocado pelos trocadilhos perigosos
da confusão de um nome
do toque inseguro de uma pergunta inesperada
para uma resposta embebida de calúnia, de estória
O olhar, frio
O sexo, sombrio
Tudo pela mentira
Tudo de mentira
As sensações, os desejos, as indagações
Tudo de mentira
Tudo na mentira
As roupas no chão
O suor condensado
Os sussurros altos
Fazem tudo parte de um teatro

Por medo de mudar
Me mantenho inseguro
Entre andar e ficar parado
escolhi cavar um abismo
no pedaço que me mantém equilibrado
entre a morte meditada,
do envenenamento simbólico,
da dor que não afaga

domingo, 28 de setembro de 2008

Conhecimento


Empreste-me pedaços de seu discurso para que eu possa usá-los como meus
Suas palavras parecem tão sólidas que gostaria de derretê-las
Doe-me dúzias de seu “eu acabado” para que eu possa me construir,
Procure um pouco de tempo para me ensinar a me redimir,
Guie-me por dentre caminhos tortuosos, de elevada dificuldade,
pois nenhum enigma seria capaz de detê-lo, você conhecedor da vida,
dos conflitos, da conquista
Seu “eu” uni-facetado, conhecedor do retrocesso temporal
Como é complexo fazer do múltiplo uno
esquecendo da unidade maternal
Vamos voltar ao desconhecido
e esquecer o que temos que aprender
Não quero esse mundo de conhecimento
Quero apenas viver

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Palhaço




Quero chorar as lágrimas postiças desenhadas em meu rosto
Borrando a pintura caricata que às vezes não lhe diz quem sou
Para te mostrar meu verdadeiro valor,
corto a carne doentia,
chupo teu sangue frio
costuro o buraco aberto
Teu pulmão desgastado,
Teu coração angustiado,
Tua cabeça enferma
Teus lábios ressecos
Vou tudo esquecer
Para te lembrar que sou um palhaço
Pronto para vencer

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Campo de Batalha


E você luta,
luta, mas nunca chega lá
Caminha léguas e pára aqui
Indeciso sonhador
Careta, menino
Jogou tudo ao mar
Inocente, não sabe o que é paixão
E lutamos,
Por tudo que um dia vivemos
Mas a batalha é dura
Os corações, fracos
O tempo passou e ainda somos crianças
Apunhalado por quem você mais confia
Sente apenas o sangue escorrer
Quente e calmo pela confiança branda
Guerreando com todos
Por tudo que eles falam
Contra tudo que eles são
Querendo flutuar, esquecer
Agredita que nada aconteceu,
que tudo aconteceu
E abraços não mais são necessários
Para um guerreiro que parte,
Para um guerreiro que morre,
Para um guerreiro que ama
neste campo de batalha,
nesta vida, aqui, imposta

O que a poesia (não) faz


A poesia esquece que não quero demonstrar tudo que sinto
Clareia o que desejo manter obscuro
Vicia-me a libertar-me dos vícios
Não diz o quanto eu necessito disso
Evidencia o quão frágil estou
Não esconde minhas falhas
É sentimental por demais
É retrato momentâneo,
ingrato
Revela segredos indizíveis olho a olho
Não nos deixa descer antes
Impede que voltemos um passo
Nos massacra com verdades desejadas
Deixa os pés frios, sem lençóis
Me deixa pensativo,
sozinho...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

...


aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Escultura


Queria poder olhar tua nudez
e reparar todos os detalhes dos poros da tua pele...
para saber se a perfeição se reproduz em laboratório

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Untitled


Não me pergunte por qual caminho vou
Seguindo com os olhos vedados
Ouvindo o som
suave
doce
vermelho
amargo
Salto o escuro
Pinto o colorido
E se eu não quiser partir?
Você virá/ficará comigo?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Numa Noite


O silêncio me machuca em cada chegada,
em cada despedida
Onde fora você?

A saudade latente
alongada pelas horas arrastadas
não fora suprida
Lágrimas desperdiçadas!?
E sua casa?
E nossa partida?

Como se nada tivesse acontecido
Você cruza
Mais uma vez eu fiquei
Sem uma noite, só
Escondido na minha máscara,
que todo o medo mascara
Você sorrir,
minha dor

Você figurara
Como mera conhecida
Apenas uma menina que encontrei algum dia na esquina

E meu coração te arrebatou
Como o sonho inacabado
No meu quarto tudo ficou,
como em cada temor,
como em cada amor,
como em cada partida

Insuficiência


Quando somos os personagens das tramas de outras pessoas
E temos como função desenlear a rede confusa
Sobre os sentimentos ardentes
Do pulsar contínuo
De poemas obscuros
Da imaginação fria
Escrevendo para honrar a dor
Fugindo a todo momento para encontrar o exílio
Num barco que vai afundando
milímetro por milímetro junto com nosso prato
Sem ninguém ao lado
Sobre os pensamentos perdidos
Relembramos tudo que sentimos
Apenas para dizer: “eu te amo”

Mas isso não é suficiente
Para me tirar deste meu lugar
Mesquinho, indefeso, confuso
Nesta encruzilhada,
Nada há para onde olhar
O passado já passou
O presente está perdido
O futuro não é contínuo, não é amigo
E eu, aqui, o escolhido
Qual caminho percorrer, quando não se sabe o porquê viver?
E se você está aí
Porque não grita por mim
apenas para ecoar
sobre a parede, pela janela, no imaginar
sua sede de paixão, ardente em nenhum coração?

domingo, 14 de setembro de 2008

Para Esvair


Quero escrever para explodir
Concentrar a música nos ouvidos
Dissipar as críticas
Esquecer quem sou
Para não ler os poemas de outrem
Fingir não ver meus erros
Fingir que estou num caminho seguro
Enganar-me com os ferimentos abertos
Contentar-me com as partidas agendadas
que na fadiga crescente,
da crucificação diária de cada olhar,
do martelar das palavras,
do achar de uns,
do querer de outros,
me desespero nadando pelo deserto do fundo do mar
Escrevo para esquecer de procurar as respostas para minhas dúvidas
Para adiar o dia do encontro final
Para mudar a essência
Caminhar vagarosamente
Eliminar os flagelos
Traçar retas, sem paralelos
Fugir a todo tormento,
a todo momento

Homem Barroco




No paradoxo barroco
Divido entre o real e o imaginário
Entre o certo e o errado
No limite do sagrado com o profano
na penumbra da luz branca
Sempre buscando o caminho mais tortuoso
Da teatralidade nascente
Nessa eterna fuga
Recuso-me a combater o medo
Fazendo de tudo bolas de neve
Soprando o vento das mágoas
Vivendo numa realidade morta, viva
Tudo me apavora
E eu penso: “não me deixe agora”
E porque ir por esse caminho?
E porque logo esse caminho?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sorrisos


Os sorrisos são sentimentos tátil-visuais
Expressos de diversas formas
Nos momentos de dor,
nos de felicidade,
nos de surpresa,
nos de aflição

Facilmente desmascarados
Existem os tranqüilos,
os acanhados, os redentores, os estimulantes,
Existem também os que coram, desandam
Os que balançam o coração,
que retiram a terra de órbita, pura diversão
E até nos momentos de tristeza lá está o sorriso,
teimoso em se mostrar

Entre sorrisos minguados, acanhados
entre os disfarçados e perigosos
Todos tiram um pedaço de sua mascara,
quando mostram o que de dentro exala

Entre todos esses sorrisos,
o meu é o da metade
Quase que forçado, artificial
Incompleto, simbólico
Sempre a esperar algo terminar
Mas ainda assim, alguns dizem ser bonito,
ainda que desperte a sensação de postiço
Esse é meu sorriso
Que quase não quer se mostrar

E nessa imensidão de pluralidade
Cada qual escolhe seu tabuleiro
Para manifestar esse grito calado
da dor, do rancor, da felicidade, do amor
que do peito se revela
e que na alma nos acalenta

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Por traz da mascara de Pierrô


Estou cansando de todas as baboseiras que me circunda
De promessas feitas e quebradas
De personalidades formadas
Das acusações infundadas
Das palavras trocadas
Dos votos de paz
Cansei de perder para o mundo
De tentar ser um cientista social
De explicar o desinteressante
De gostar do ridículo
De cultivar o que a moda ultrapassou
Cansei de tentar mostrar que devemos ser melhores
de embutir a “reavaliação pessoal”
Desisto de tentar
Não quero mais implorar

Lembranças


A lembrança de uns poucos momentos,
a lembrança de "pouca" importância,
a lembrança do desespero,
a lembrança de quem ama
Essas são todas lembranças
De um amante,
De um pilantra

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Memórias Abastardas


Esqueça o passado como artefato negro
Você disse que iria partir
E, agora, o que será de mim?
E nosso passado, recente
Claro como a alvorada
Fresco como a brisa
Teus abraços
calorosos
ofegantes
libidinosos
E teus sorrisos
E as estrelas que olhamos juntos?
E a canção do mar orquestrada por nossos ouvidos?
Caberia tudo isso no porta-malas da partida?
Os tantos beijos
Os desencontros encontrados
A dificuldade do amor
da complacência
do temor
Tantas coisas já temos para contar
Os flashes rememorados
As primeiras experiências de nossas vidas
Tudo acontecendo quando estávamos juntos
Não são suficientes para te fazer lembrar o que somos?
Ou o que nos tornamos?
Nossas corridas na praia
Deitando na areia molhada
Sussurrando sonhos distantes
Imaginando-nos como pobres amantes
Tudo isso não justifica o porquê da paixão?

Decido, por hora, me calar
Conter todos os gritos abafados, silenciados pelo penar
O que posso te dizer
É que eu te quero para mim





Ainda que seja para me iludir

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

No meu Quarto


Detrás da porta
um par de chinelos descansa ao lado de alguns CDs e toca-fitas
A fraca luz do abajur proporciona a penumbra ideal
Para uma noite de melancolia, para uma noite de reflexão

Sobre as estantes, os livros
Nas prateleiras, algumas fotos
Por cima do móvel marrom, a vida virtual
Agrilhoados na parede branca,
manchada com alguns poemas de pouca importância,
um quadro, dois cartazes, três chapéus, um porta retrato
estes repousam tranqüilos
baratos, esquecido, guardados

A janela coberta por uma fina cortina
está logo acima da cama
Na mesa de estudo,
um mapa, algumas cartas, um pijama
dividem espaço com o amplificador, que está logo abaixo, na decoração
O violão, as bolsas e a solidão
ganham também algum espaço nessa pouca imensidão

Sobre os fios que correm para cima do teto
Um outro punhado de CDs se descolam
Mais uma vez o garoto dorme
Neste quarto terraço, sua origem, seu laço

terça-feira, 2 de setembro de 2008

(In)esperado Sentimento


Na ambigüidade do olhar
com a fusão de simples palavras
Brotou algo inesperado
A negação se desfez
O medo fora combatido

Como será conversar consigo mesmo
Quando a melhor amiga não é a consciência?

As válvulas de escape vencidas
Não mais suprem as necessidades alarmantes
Naquele momento exato
O tempo parou
Estagnou os sentimentos
A Terra orbitou sobre nós
O sol da meia-noite nasceu

Ninguém acreditou naquele paradoxo natural
Até mesmo seu feitor relutou
Perdido em suas palavras
Deixou-se ir entre os alísios tropicais
de epopéias construídas
no imaginário de nossas mentes infantis

Escrevendo poemas para outrem
Procuro traduzir o indecifrável
Tentando por em palavras o que não se entende dos atos
Mais uma vez, aqui, me isolo, no meu quarto
Perguntando-me aonde queremos chegar...

Buscando um desejo obscuro, (im)possível
Imploro para a memória não falhar
Querendo rememorar tudo aquilo, que o aquilo me fez passar

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

One of These Days


Num daqueles dias de trabalho
Deparo-me contra o sol radiante
Penetrando na chuva fraca que respinga na janela
O vento calmo chocando-se contra meu rosto
O céu, nublado, escondendo sua grandeza
Os ecos do além sussurrando frases bonitas
E, cada vez mais, surgem buracos
no caminho que optei percorrer
Farsas sobre farsas construímos um espetáculo teatral
Não espero ninguém se precipitando
Tudo continua a andar
O rio que passa sobre o solo não é o mesmo
A aquarela continua cintilante
Apenas as cores que escolhi não iluminam
One of these days escolhi inverter
todo o meu mundo que me mantinha aprisionado
Novamente alcei vôo
Parti rumo a alguma alvorada

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Aquarela


Com um punhado de tinta
Decidi colorir um pouco a monocromática tela de minha vida
Um pouco de amarelo nas bordas,
de azul no centro,
Jogo um preto aqui
Um verde acolá
Sombreio as partes negras
Pinto de rosa as passagens felizes
Desenho quimeras para os pedaços tristes
Tonifico os momentos mais importantes,
E reservo um pedaço deste quadro para saborear o poder das criações espontâneas,
das invenções quase que meditadas:
para marcar, registrar, não mais esquecer os vestígios presididos pela imaginação

Neste mundo artístico
Incluo todos os sentimentos exacerbados
jogando todas as cores conjuntamente na parte central superior
E, deste modo, metodicamente pintando,
classifico todos os rumos e cicatrizes de minha pequena e irrisória memória
Termino fechando todo esse espetáculo com apenas uma certeza
De que o espetáculo da vida,
ainda que irreversível e único,
pode ser rememorado, recriado, reaproveitado
Por isso eu crio, crio realidades que ainda nem existem
Com pessoas imaginadas
Nos momentos mágicos da vida

E neste teatro
Resta dizer que só há uma exigência:
querer você também pintar a minha, a sua, aquarela escolhendo, a dedo, a cor, o lugar e o desenho de suas telas

domingo, 24 de agosto de 2008

O Último Guerreiro


Arrebata-me com o prazer do sonhar
Carregue-me para a tua morada
Permita-me lançar todos meus desejos
Dê-me sua licença para exterminar a inquietação da expectativa
de cruzar minha visão com a arte do seu corpo
Entre o vai-e-vem
Sufoco
Angústia
Inquietação
Aquela espera, no entanto, é válida
Oh, Meu Deus, como é bom se declarar
Mesmo para quem não me quer escutar
Mesmo para quem apunhala o coração indefeso
Mas para mim não importa o resultado
Sempre continuarei com essa vontade louca de conquistar
De me entregar
De viver
De conhecer
De me deliciar