Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quereres





Eu poderia seguir em frente
se não fosse essa vontade mórbida
de devorar meus próprios braços
Construir objetivos
como se viver no futuro 
fosse mais louvável
Ignorar meus olhos
que me tira a paz
e desassossega
Que me cega e sela meus destinos e querelas
Seguir pela contra-mão e arriscar
sua imagem do passado 
como se no amanhã estivesse
Queria colocar cada coisa em seu lugar
para tecer meus conflitos sem retalhos numa colcha
e embrulhar num porta-malas
tudo que se pode chamar de lembranças
Eu tiraria as pilhas de todos os relógios
se isso me garantisse parar o tempo
para, então, viver com menos pressa
Correria para o labirinto dos pirulitos
em busca de doce mais diferente
que não levasse açúcar,
nem causasse diabetes
Dando a verdadeira envergadura de cada momento,
ofereceria o soldo do santo em aguardente
para chegar mais longe na via crucis
dos pagãos condenados por usura
a pagar dor a dor cada instante de aflição
Finalmente, após notar meu delírio,
recolher-me-ía em minhas vergonhas
lacrando minha boca no escuro,
calando meus pensamentos,
com o fim último de me proteger do meu corpo,
fechado, 
duvidoso, 
sedento

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Minha Antiga Prisão









Eu poderia arriscar algumas palavras
para este indefinido momento
Esse meio tempo verbal
Pausado de canseira
Do lado inverso de meus poemas
Que se convalesce em nossos termos
Dando de botas para entraves
Minha doce carente
caliente por mis brazos
Todo dedo um pouco acusa
Me prometo promessas mútuas
Passando por um verão frio
Do meu sorriso que é sério
Volto pr´aquela viela
Caio de cost´agrafia
Lembro do vento forte,
de suas histórias
da correria
Neste vale anfitrião,
pinto um sorriso por dia
Mato leões exaustos
Padeço sobre o papel
Corto um corte falso
Dissimulo que me importo
com tudo que aconteceu

sábado, 22 de maio de 2010

Lenitivo




Toco em preto e branco
Esclarecendo para encobrir
Arregaço as mangas
Sinto um frio insuportável
Corro em direção ao sol
Dinamito as mãos
Menosprezo quem sou
Dou as costas para a luz
Tropeço em escolhas
Olhos vedados pelo orgulho
Pulso que pulsa repúdio
A rotina intocável
O desejo alienado
Minha tranquila cólera
O mundo de intervenção
O vai-e-vem indignado
Meio passo adiante
Meu "eu" psiquiatra
Alienista de meus sonhos
Rejeição de "eus" que colidem
por um instante
por meus instantes
O fluxo pisado e moído,
Você, do outro lado, 
também me angustia
Fecho portões com cicatrizes
E finjo, do meu quarto,
que todos têm um cruz
em que se crucificam um pouco por dia

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Por um Zelo




Uma fragilidade dura
Você muito menina
Tantos obstáculos
Inúmeros contornos
Se deite em meus braços
Vamos "algodoar"
Para onde partiram as bonecas?
Rachemos nossas cabeças
Já estou subindo pra baixo
E não me faça mais perguntas
Chupe seu dedo
Dei-me mais um beijo
meu coração
Segure forte
Regresse
Não parta sem mim
Avancemos
Ficamos
Fiquemos
Ame
Chore
Clame
Segure
Derrube
Derrame
 

terça-feira, 4 de maio de 2010

Eu, você e meus Botões





Tentando fugir dos clichês
arrisco o que tento sentir
Quero sangrar um pouco menos
mas lá vai meu tempo
minhas horas que partem sem mim
Numa auto-salvação confusa
as palavras me atropelam
Fico cá 
sozinho
com meus botões
Pergunto-me, eu,
com todas as redundâncias,
se não seriam meus desejos
orgulho pueril
no meu mundo perfeito
querendo ilusões
Agradeço
quase com frase já feitas
Pulo no vidro
Estrago minha água
Suo um suor sacro,
revoltado,
desnecessário
E todos tentam ler,
a todo custo,
uma perdição aflita
nada cortez
pouco louvável
vergonhosa
repetitiva
não memorável
Uma confusão que não se entende
com equilíbrio e calculismo
É preciso ser cinza para entender o que é fogo
E me questiono mais uma vez
se mais vale queimar
que se apagar aos poucos
"És grandioso para sangrar até morte"
Mas me diz tú:
que vale morrer sem sofrer com a morte?


domingo, 2 de maio de 2010

As Cruzadas em Meu Nome



 
"Deve haver algum motivo para continuar"
Num mundo esfarelando aos poucos
Os heróis desabando por medo
Uma armadura trincada
Os cavalos que me enfrentam
Equilibrando-me nos anéis de Saturno
Não há meios para recuar
Mas os pés desobedecem ao comandante
e corre a largos passos
do olho de fogo que se aproxima
"AVANTE SEU MISERÁVEL"
grito sozinho, quase insano
Digladiando para silenciar
aquilo que se diz que fez em meu nome
Quem realmente se importa com os loucos?
Quem mais tem fé em mutretas?
Qual povo mata os filhos
por outros irmãos que o despreza?
Queria um deus mais forte
Já não basta meu violão
Ainda assim ela insiste:
"Você devia, sim, pedir PERDÃO"
Destratando-me para tratar
de qual lado da balança tem mais ouro
Virando as costas para a batalha
"Nada mais importa"
Sai o jovem comandante,
ferido no calcanhar,
sem sonho,
SEM REZAR...