Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

domingo, 26 de setembro de 2010

Sangue com Vento


O que precisamos para sermos felizes?
Quem sempre espera
fatalmente encontra
Tudo se sucede tão depressa
Pensamentos e desejos roubados
Minha argamassa cedendo
Momentos efêmeros de felicidade
Minha ferida no calcanhar
Com a porta sempre aberta,
cada vez mais,
temos menos força
para acreditar e louvar
todas as conquista
que, por essas horas,
já são tolas
E seguimos em frente
como se fosse progresso
Retroagindo pelo futuro
em lembranças que sufocam
Minha querida misericórdia
que me deixa continuar escrevendo
Sangue misturado com água
Poesias jogadas ao vento


terça-feira, 22 de junho de 2010

Carta ao Leitor



Com o intuito único de escrever outras coisas que não poesia, resolvi dar férias ao Genealogia da Existência. Quero me aventurar em coisas um pouco mais leve. Estou querendo pôr para fora um outro lado. Ficaria, assim, inteiramente lisonjeado com suas visitas ao meu novo blog (de preferência para comentar e acompanhar): http://maislevequeapena.blogspot.com/

Desculpo-me com todos e, desde logo, adianto não ser isso uma despedida. Todas as vezes que eu sentir necessidade voltarei, afinal: escrevo por necessidade e não por beleza.

Atenciosamente, Montarroyos.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

As Nossas Cores


Todos os dias
começam para terminar
Mais uma manhã por meus olhos
E tento com todos os meios
correr com mais vagar
Mas me carrego pelos cantos
Pinto um sangue falso
Ponho mais um ponto
entre reticências que se acabam
Outro anel no bolso
Ataco meu sinto
Abotôo o destino
Vôo sem redenção
E, às vezes, penso
"Minha remada sem volta"
"Insuficiência"
"Quem, no final, não estará só?"
Para os que nada temem
Um passo atrás é também esperança
E trago outra interjeição
Vida congelada
Diga-me que também acha o mesmo
Reescreva o meu rei
Minha verdade com fronteiras
Minha paixão
Minha asma
Meus dedos que se enrugam
contra uma teimosia careta
Com medo, nego-me
Talvez não existam mais cores
É possível que estejamos velhos
Quem sabe o tempo não se gastará

terça-feira, 8 de junho de 2010

Fulcral



Por todo o tempo
uma história se reescreve
Em cada som que deixamos escapar
Por uma decisão,
fardo da liberdade,
que impele um pouco mais de paciência
O filho que abortamos no mundo
E tomamos mais um gole 
de nosso próprio gosto
O dia que amanhece
e trás o sol 
O curso da vida que parte
cursando o caudaloso
que nos carrega
A investida dos mandamentos
Meus quatorze pecados confessos
A ampulheta de querubins
Tua alma
Nossas faltas
Meus desejos
Fatalmente vivaz
Ontologias mortais
de meu próprio "eu"
contrário,
radical,
insossomente,
fulcral

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Um passo adiante, seguindo para trás



Para esses casos, 
reservo minhas reticências
Não gosto de ser experienciado
Volto para frente
Economizo um passo
Me flagro chorando aos montes
Explodo na contra-mão
Meus olhos tremem intermitentes
Já não me servem mais suas canções


segunda-feira, 31 de maio de 2010

Quereres





Eu poderia seguir em frente
se não fosse essa vontade mórbida
de devorar meus próprios braços
Construir objetivos
como se viver no futuro 
fosse mais louvável
Ignorar meus olhos
que me tira a paz
e desassossega
Que me cega e sela meus destinos e querelas
Seguir pela contra-mão e arriscar
sua imagem do passado 
como se no amanhã estivesse
Queria colocar cada coisa em seu lugar
para tecer meus conflitos sem retalhos numa colcha
e embrulhar num porta-malas
tudo que se pode chamar de lembranças
Eu tiraria as pilhas de todos os relógios
se isso me garantisse parar o tempo
para, então, viver com menos pressa
Correria para o labirinto dos pirulitos
em busca de doce mais diferente
que não levasse açúcar,
nem causasse diabetes
Dando a verdadeira envergadura de cada momento,
ofereceria o soldo do santo em aguardente
para chegar mais longe na via crucis
dos pagãos condenados por usura
a pagar dor a dor cada instante de aflição
Finalmente, após notar meu delírio,
recolher-me-ía em minhas vergonhas
lacrando minha boca no escuro,
calando meus pensamentos,
com o fim último de me proteger do meu corpo,
fechado, 
duvidoso, 
sedento

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Minha Antiga Prisão









Eu poderia arriscar algumas palavras
para este indefinido momento
Esse meio tempo verbal
Pausado de canseira
Do lado inverso de meus poemas
Que se convalesce em nossos termos
Dando de botas para entraves
Minha doce carente
caliente por mis brazos
Todo dedo um pouco acusa
Me prometo promessas mútuas
Passando por um verão frio
Do meu sorriso que é sério
Volto pr´aquela viela
Caio de cost´agrafia
Lembro do vento forte,
de suas histórias
da correria
Neste vale anfitrião,
pinto um sorriso por dia
Mato leões exaustos
Padeço sobre o papel
Corto um corte falso
Dissimulo que me importo
com tudo que aconteceu

sábado, 22 de maio de 2010

Lenitivo




Toco em preto e branco
Esclarecendo para encobrir
Arregaço as mangas
Sinto um frio insuportável
Corro em direção ao sol
Dinamito as mãos
Menosprezo quem sou
Dou as costas para a luz
Tropeço em escolhas
Olhos vedados pelo orgulho
Pulso que pulsa repúdio
A rotina intocável
O desejo alienado
Minha tranquila cólera
O mundo de intervenção
O vai-e-vem indignado
Meio passo adiante
Meu "eu" psiquiatra
Alienista de meus sonhos
Rejeição de "eus" que colidem
por um instante
por meus instantes
O fluxo pisado e moído,
Você, do outro lado, 
também me angustia
Fecho portões com cicatrizes
E finjo, do meu quarto,
que todos têm um cruz
em que se crucificam um pouco por dia

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Por um Zelo




Uma fragilidade dura
Você muito menina
Tantos obstáculos
Inúmeros contornos
Se deite em meus braços
Vamos "algodoar"
Para onde partiram as bonecas?
Rachemos nossas cabeças
Já estou subindo pra baixo
E não me faça mais perguntas
Chupe seu dedo
Dei-me mais um beijo
meu coração
Segure forte
Regresse
Não parta sem mim
Avancemos
Ficamos
Fiquemos
Ame
Chore
Clame
Segure
Derrube
Derrame
 

terça-feira, 4 de maio de 2010

Eu, você e meus Botões





Tentando fugir dos clichês
arrisco o que tento sentir
Quero sangrar um pouco menos
mas lá vai meu tempo
minhas horas que partem sem mim
Numa auto-salvação confusa
as palavras me atropelam
Fico cá 
sozinho
com meus botões
Pergunto-me, eu,
com todas as redundâncias,
se não seriam meus desejos
orgulho pueril
no meu mundo perfeito
querendo ilusões
Agradeço
quase com frase já feitas
Pulo no vidro
Estrago minha água
Suo um suor sacro,
revoltado,
desnecessário
E todos tentam ler,
a todo custo,
uma perdição aflita
nada cortez
pouco louvável
vergonhosa
repetitiva
não memorável
Uma confusão que não se entende
com equilíbrio e calculismo
É preciso ser cinza para entender o que é fogo
E me questiono mais uma vez
se mais vale queimar
que se apagar aos poucos
"És grandioso para sangrar até morte"
Mas me diz tú:
que vale morrer sem sofrer com a morte?


domingo, 2 de maio de 2010

As Cruzadas em Meu Nome



 
"Deve haver algum motivo para continuar"
Num mundo esfarelando aos poucos
Os heróis desabando por medo
Uma armadura trincada
Os cavalos que me enfrentam
Equilibrando-me nos anéis de Saturno
Não há meios para recuar
Mas os pés desobedecem ao comandante
e corre a largos passos
do olho de fogo que se aproxima
"AVANTE SEU MISERÁVEL"
grito sozinho, quase insano
Digladiando para silenciar
aquilo que se diz que fez em meu nome
Quem realmente se importa com os loucos?
Quem mais tem fé em mutretas?
Qual povo mata os filhos
por outros irmãos que o despreza?
Queria um deus mais forte
Já não basta meu violão
Ainda assim ela insiste:
"Você devia, sim, pedir PERDÃO"
Destratando-me para tratar
de qual lado da balança tem mais ouro
Virando as costas para a batalha
"Nada mais importa"
Sai o jovem comandante,
ferido no calcanhar,
sem sonho,
SEM REZAR...

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Dedos em balões





Diga-me para onde partiu
a história daquele livro
Pederastas inocentes só existem em seu mundo
Tolo
Incompreensível
"Quem, afinal, é você?"
O que você carrega nessas mãos?
Punhados de confissões
não o livrará da angústia
Vire de ponta-cabeça seu relógio
talvéz, assim, o tempo volte
Desligue logo esse telefone
Volte para casa
Feche essa tranca quebrada
Ouça o som da indiscrição
"Alguém aí dentro pode se revelar?"
Deve haver um céu estrelado nesse corpo em farelos
Margarida, venha me encontrar
"O alerta já foi dado"
Corra com mais pressa
A dor pode alcançá-lo
Apague os retratos
Seus olhos refletem dor
Posso tocar os restos da destruição?
"Minha dor é apenas mais uma"
Chegou a hora de partir
Você poderia, ao menos, se explicar
A lua foi feita para os solitários
"Afundei o pé em meu coração"
Poderíamos, simplesmente, ser adolescentes
"Minhas lágrimas serão de aflição"
Queira seguir pela direita
"Para caminhos tortos só servem a esquerda"
E acabará a espera?
Amor não é só palavras
Minto para sobreviver
"Muito prazer, então"
Foi por pouco que me desencontrei
Dedos em balões
Meu mundo
Nosso espaço
"Auto-prisão"

sábado, 24 de abril de 2010

Para tudo e com todos: uma criança




Diz-se, por aí, que
partir com as botas limpas
é mais honroso que as deixar sujas
É o vento das mudanças que chega 
e com quase nada nos deixa
de nossas velhas esperanças
Venha e sussurre em meu ouvido:
"Sinto o que deveria sentir"
"Por nós, vale a pena sofrer"
Chegue mais perto e note
o sentimento perturbado
de nossa jornada
do desembarque
Não quero apenas fotografias
Como antigos amigos,
sem facas no coração,
quero que venha e revele apenas
quanto devemos por cada quinhão
E eu queria mesmo que você estivesse aqui
mas como muito custa olhar para o passado
Mais uma vez, uma criança
que, no vai e vem do tempo,
que nunca pára,
que nunca estanca,
lança mão do seu futuro,
de suas histórias,
de suas lembranças

terça-feira, 20 de abril de 2010

Tempo


Como o tempo que,
mais rápido que eu,
se apressa em logo si consumir
e passa correndo
fingindo que dá tempo para a vida
que devagar passa rápida
A velhice chega
Deixando-nos com a pele escorrendo:
resultado da ampulheta do tempo
Agonizamos nos poucos minutos
que em nossos dedos passam
Minutos que simplesmente correm para o nada
Preocupados com os muitos outros que ainda virão
Os olhos que acompanham
O espetáculo sem fim dos momentos
de vivos que vivem para o tempo
do tempo que, cedo ou tarde, acaba com os momentos


Vida?


 
Abrir os olhos não é viver!

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Inconsistência



Tentando provar quem sou
Esqueci, por um momento, quem eu era

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Meu Contrato de Mudança



Admitir a existência de uma dor
não é provar mais uma carência
Paixões
distam léguas
Palavras juntas:
há sentimento?
Tanta coisa digo
Mas quantos mais não me entendem?
A sombra que se interpõe em nossos caminhos
E, mais uma vez, viro as costas
para uma viela às avessas
Sinto que peco de alguma forma
Não vou mais abrir as janelas
O caminho do horizonte estrelado
O coração emplumado
com pedras
E continuo na continuidade de uma esperança
O acordo dos amordaçados
num contrato silencioso
E cada vez mais, me vejo:
há um passo de irretornável,
no limite do ilimitável
a beira do irretratável
em um lugar em demasia longe, 
mas que, em meus sonhos, sonhei tão perto

quinta-feira, 25 de março de 2010

Ressentimentos


Há alguma coisa aqui dentro?
Você poderia desvendar comigo?
Sim, eu posso ouvir o sino tocando
Posso ir adiante?
Até quando isso durará?
Um dia segurarei sua mão?
Mas quem é você, estranha?
E eu podia jurar estar convencido
Minutos meus de ilusão
Posso telefonar mais tarde?
Tudo bem, são só problemas de definição
Por que está tão barulhento?
Isso é tão angustiante
Você se lembra daquele domingo?
Para onde você irá agora?
E por que sofro por quem nem conheci?
Não podíamos, simplesmente, ser mais diretos?
O que realmente importa nesses momentos?
Tudo bem, confesso, são muitos conflitos
Tenho certeza que há um horizonte
Éramos jovens
antes da corrida do tempo
As noites só refletem os lados opostos
Os espelhos que colocávamos n´alma
E voltamos mais uma vez?
Não é um pouco tarde para promessas?
Falar pouco é fácil
Vamos reconstruir aquela casa
Como era o nome de nossos sonhos?
Ainda estamos satisfeitos?
Vamos voltar para o eterno?
Eu queria ir para a estrada 
A escuridão me lembra a infância
Minhas criações
Gosto de banhos de chuva
Alguma esquina
Nossas lembranças
Minha rosa negra
As trocas me embaraçam
Olhei para você
mal sabendo que olhava para mim mesmo
Você acha mesmo que posso voltar atrás?
Posso lhe beijar uma única vez?
Você não vê o que está escoando?
Isso só foi mais uma pergunta
para o silêncio de uma cegueira
Secando todas as minhas roupas
Misturando saudade à sujeira

terça-feira, 23 de março de 2010

O Ofício de Meu Clamor



Com pouco do que se orgulhar
Duma jornada tão dura
A custo de ilusões
Trajetos inteiros de imperfeição
A passagem fugaz
O menino pródigo
Trilha de um regresso improvável
Perdões com ódio
Do ofício largado
A história que se apaga
Das lembranças que se arrastam
O amargo sabor
Da indagação não respondida
De qual futuro me azucrina
Mas, enfim, com direção
Com milhões, cem mil, sem nenhuma opção
O pensador vitimado 
Foi tudo culpa do pensamento
"Minha querida criança"
Queria não  fazer escolhas
Vou gritar tudo quero
Ainda não escolhi as palavras certas
"Mas qual medo te desespera?" 
Vou leiloar minhas esperanças
"Você pode parar com isso?"
Agora não vou mais dizer
Acho que vou escorregar
"Que tal um café?"
O que mais posso fazer?
Acho que vou dormir
Talvez lá eu possa me inclinar
Migrar pro paraíso
Gramas e gramas
Para quê mais juízo?
Quem dera fosse uma fase
O que direi para meus filhos?
Quanta coisa devo inventar
Mais uma vez um encontro perdido

quinta-feira, 18 de março de 2010

Labirinto



O caminho perfeito
O tom
Sua voz
O meu amor
Minha carícia
Seus chiliques
As vogais
Seus sonhos
Meu caus
A identidade que me roubaram
O retrato que esqueci
A pacata vida
 A coleção de "sim"
Os cantares de desabafo
Meu tempo louco 
de um futuro que já é passado
Meus porquês sempre restritos
Reinicio
meu labirinto
Numa auto-reflexão
de muito morfo,
com tantos erros e ingratidões