Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

quinta-feira, 25 de junho de 2009

O Último Homem que Partiu




Ensinando a ser alguém
As facadas vêm devagarzinho
Rasgando as roupas
Rompendo a pele
Epiderme
Lesionando os músculos
Friccionou os ossos
Tocou na medula
Poluiu a essência
Agora ele tem que se jogar nas palavras
Seguiu viagem
O rio foi para o céu
Existem cacos de vidro
É hora da ronda policial
Ele esqueceu a camiseta
Queimou a assinatura
Os chinelos estão gastos
Ele voltou para minha casa
Partiu por que buzinaram
Não existem sombras nas cidades
A ponta do lápis quebrou
Tirou um passaporte para navegar
As velas estão queimando
Os cabelos ficaram grisalhos
Ele arrancou sua órbita ocular
Isso é uma aventura perfeita
O prefeito o repreendeu
Houve sucesso no carnaval
Já existem montanhas no mar
Fotografias são ficções
A vida,
desconhecido de ilusões
Projeções de grandes projetos
Arcaicos medievais
Ele viajou para Europa
E acredita agora
que a todos pode superar
O último homem que partiu
Uma viagem sem fim
Sem caminho de volta

sexta-feira, 19 de junho de 2009

A Menina da Chapelaria


Outros que já pensaram o que eu queria dizer
Gritos e gritos
Eu grito
Irrito
Azucrino
Insisto
E o prazer?
Sentimento sofrido
Lembro daquele encontro
Desencontro achado
em baús perdidos
E agora me afogo em químicas
de sonhos radiantes
O chapéu que pus na cabeça
Sob estonteantes olhares
de abas trocadas
de par em par
Pulos de brincadeira
A pobre menina
Indecisa
Alheia
Escondendo-se no invisível
O assombro que se construiu
Com medo do reflexo do espelho
Sofrendo por quem partiu
A garota droga
a droga da vida
que a intima a ser
o que no fundo do peito nega existir
O pouco que se conhece
Decidiu especular
Os perigos da ida
da uma aventura infantil
Na chapelaria
se reconfigura
Esconde os cabelos
Remodela o rosto
Conhece curiosos
Falantes de cotovelo
Menino de muitos encontros
Trocas de telefone
A menina na chapelaria
Nada comum
para um dia de sexta-feira
Seguir a estrada que nunca termina
da vida arrastada
que em largos passos declina
De um estranho sonhador
Imaginário perigo
A criança sem dor
Encontro com despedida
“Toquei na sua mão,
esperarei aflita”

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Com fim, contado



A gota do sangue da rosa
Vida filantrópica
Tropeçando em erros pueris
A contramão do destino
O último a beijar o azul
Filho que vai para nunca mais
Bebendo o óleo das articulações
Música para flutuarmos
Esmagou o sentimento
As pessoas não nos merecem
Havia alguma lógica recalcada
Certificado da lua
Nada é justo com ninguém
Contei com a sorte
Tossi as moscas da capa
Joguei cal na estrada
Desabotoou os pontos da trama
Desbotou a maquilagem do rosto
Vi o monstro distraído
Não deveria ser tão difícil
O corredor é assustador
Melei a parede branca
Você saberá que estive aí
Cuidei dos meus lábios ressecados
Enxagüei meus olhos molhados
Pus uma lente azul
Aquilo que era negro,
colori
A pá
corri
Léguas
sem fim
com fim,
contado

terça-feira, 16 de junho de 2009

Recado ao Redator





Poesias carregadas de efeitos
Para explicar
O porquê de estar aqui
Responder as perguntas
Aglomeração desordenada
Fase de descoberta mal resolvida
Carência é solidão
Medo de mil coisas
Quero a genealogia da existência
Não consigo enterrar o passado
Ele impregna nossos olhos
nossa pele
as paredes de meu quarto
Os que passam por aqui
Só querem informação
Mais uma vez corri do perigo
Nunca conhecemos a essência da vida
Fuga grosseira
O melhor caminho para responsabilidade
Uma criança que renasce em nosso peito
Reciclagem do amor
Por tudo que você fez
Ainda sou eu o infantil
O resultado da vingança
O orgulho ferido
Com viseira nos olhos
Somos capazes de verticalizar
Não devemos conversar com estranhos
E sempre emprego o verbo no pretérito
Para aquele que nunca é
Sempre foi
Aqui não é lugar para rancor
Minhas plantações de algodões são rosas
Queria saber pintar
para fazer aquela aquarela de complacência
Mas o sonhador sonhou sozinho
O barco do pescador afundou
Na guerra, diplomacia é eufemismo
Os políticos estão corruptos
Qual discurso pró-causa você construirá?
Afinal, eloqüência é um dom
O silêncio expressão
Por bem, não me candidatei
Nesta eleição, a chapa é única
Bom proveito de seu governo
Exilo-me de seu país
Você não precisa mais de tabuleiros

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Por Cada Gota de Perspectiva


Como quem insiste em não querer fechar as portas
Não existem forças para recomeçar
A façanha da vida
A descoberta do câncer
Tranqüilidade serena
Alzheimer genitor
Você nem se lembra de mim
Saudosismo de esperança
Estações de troca de folhas
O tempo que acelera
a cada pingo do desejo
Problemas que se amontoam
Engarrafamento de procissões
Queria minha mãe por perto
Se meu pai não tivesse partido
Esconder minhas vergonhas
Fingir não ter magoas
Quem é capaz de entender
o caminho pelo mesmo chão,
os mesmo buracos escondidos,
o segredo revelado?
Passar pelo portão diversas vezes
Seguir um rumo desconhecido
A inspiração do exemplo
Inesperada aflição
Sofrimento solitário
Minhas pessoas
“Eus” de decepção
Chorei algumas palavras
Bracejo todo calor bem quisto
Balbuciei ajuda
Quem dera você ter prestado
A agonia na cama de um hospital
Hospício para o pensamento
Morfina para meus sonhos
Não quero sentir a passagem da dor
Peregrinação dos fieis
Incredulidade do amanha
Partir querendo ficar
Não dar as costas jamais
A família no quintal
Uma bola
Um peão
Sem questões pendentes
Sem acusações
Por cada gota de perspectiva
Por meu amor
Por meu carisma

terça-feira, 9 de junho de 2009

Hipocrisias



Por onde devo começar?
Lembranças
Confiança
Crenças
Momentos
Seu cinismo
A estrada se entorta
Esse seu ponto forte,
Tão fraco
Falsidades
O mesmo lugar em que nos lembra
Você foi para lá
O imperador vigia
Meus ouvidos escutaram frases
Seus planos são para camuflar
A história chega ao fim
Você passou por cima de tudo
E nos momentos que preciso
Você não estava lá
Grato pelo tempo perdido
Não consigo olhar para as flores
Se foi tudo mentira
Tire seus óculos escuros
Vá para o alto do banco
Tire as mesmas fotos
Atravesse o mar com Severino
Filme a mesma façanha
Compare todos os toques
O jeito de olhar
As frases de reflexões
A livraria é ponto de encontro
Veja o que pensei
Sugue logo essa fantasia
Considere só uma face da moeda
O preço talvez seja caro
Esses não eram os melhores dias
Quantas versões você escutou?
Nunca mais conversamos
O tempo passou
Afinal chegamos ao fim
Só faltam seis meses
Para quê conservar
Deleto
Detesto
Todos os testes
As ligações
Mas quem disse que alguém se importa?
Sua indiferença
As lágrimas
Tudo tão hipócrita

quarta-feira, 3 de junho de 2009

Vida


Vida que se vive a marcha ré
Contando-se os pifs, pafs, boom
As pedrinhas do caminho
A memória que vai e volta
Por vezes fica
Por oras vai
Pessoas que aparecem
Que fogem
Se negam
Ajudam
Os mestres da vida que nos aconselham
a seguir direções
menos pedregosas
Fotos que tiramos
O estudo do futuro
Dos profissionais que queremos ser
Os impactos das surpresas
O mundo de novidades
que não pára de crescer
O “modelo Peter Pan” que cultivamos
resistindo em largar a infância
que ainda bate em nossas portas
O olhar caridoso de nossas mães
Os amigos que encontramos em esquinas
mas que em nenhuma delas é capaz de nos deixar
Vida que de vez em quando dobra
Em rotas seguras
ou perigosas
A rotina da internet
Do universo globalizado
Tudo acontece ao mesmo tempo
enquanto estamos no teto de nossas casas
observando o céu
ou ouvindo as cigarras
Os carros que a todo o momento passam
E, às vezes, só passam
As noites de sono recomendadas
desperdiçadas em poemas
leituras
e jogos
O perigo da vanguarda
O tradicionalismo paternal
As drogas da adolescência
O porre
A cachaça
A maconha
O sonho da banda de rock
As brigas de família
presentes até nas melhores estirpes
O descobrimento de novos mares
As cores
A textura
O sabor
A criança aprendendo a andar
a falar
a viver
E os momentos difíceis de despedida
Vida que se segue em várias velocidades
Que estanca
Anda
Volta
Se perde
Se encontra
Breca
Bate
Vida de arremate
De princípio
De ética
Desonra
Inovação
Vida progressiva
Não linear
De sustento dos outros
Do horário contado
De confusão
Caótica
Repreensiva
Cheia de obrigações
que pode nos leva a crescer
mas também pode nos levar a enfartar
Vida em instantes a beira do lago
A traição inesperada
O encontro desmarcado
Tudo isso ao mesmo tempo
Com o celular na cabeceira
Sempre a espera de uma mensagem
fraternal
libidinosa
reconciliante
Vida que em momentos precisa de óculos
E que em outros caminha só
Que às vezes cobra uma bengala
para justificar a lerdeza dos passos
das fracassadas estratégias
de engano
desencanto
desando
dor
Vida de sentimentos
Nenhum deles vãos
Vida de experiências que coletamos
Uma a uma
Com ou sem paixão