Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

One of These Days


Num daqueles dias de trabalho
Deparo-me contra o sol radiante
Penetrando na chuva fraca que respinga na janela
O vento calmo chocando-se contra meu rosto
O céu, nublado, escondendo sua grandeza
Os ecos do além sussurrando frases bonitas
E, cada vez mais, surgem buracos
no caminho que optei percorrer
Farsas sobre farsas construímos um espetáculo teatral
Não espero ninguém se precipitando
Tudo continua a andar
O rio que passa sobre o solo não é o mesmo
A aquarela continua cintilante
Apenas as cores que escolhi não iluminam
One of these days escolhi inverter
todo o meu mundo que me mantinha aprisionado
Novamente alcei vôo
Parti rumo a alguma alvorada

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Aquarela


Com um punhado de tinta
Decidi colorir um pouco a monocromática tela de minha vida
Um pouco de amarelo nas bordas,
de azul no centro,
Jogo um preto aqui
Um verde acolá
Sombreio as partes negras
Pinto de rosa as passagens felizes
Desenho quimeras para os pedaços tristes
Tonifico os momentos mais importantes,
E reservo um pedaço deste quadro para saborear o poder das criações espontâneas,
das invenções quase que meditadas:
para marcar, registrar, não mais esquecer os vestígios presididos pela imaginação

Neste mundo artístico
Incluo todos os sentimentos exacerbados
jogando todas as cores conjuntamente na parte central superior
E, deste modo, metodicamente pintando,
classifico todos os rumos e cicatrizes de minha pequena e irrisória memória
Termino fechando todo esse espetáculo com apenas uma certeza
De que o espetáculo da vida,
ainda que irreversível e único,
pode ser rememorado, recriado, reaproveitado
Por isso eu crio, crio realidades que ainda nem existem
Com pessoas imaginadas
Nos momentos mágicos da vida

E neste teatro
Resta dizer que só há uma exigência:
querer você também pintar a minha, a sua, aquarela escolhendo, a dedo, a cor, o lugar e o desenho de suas telas

domingo, 24 de agosto de 2008

O Último Guerreiro


Arrebata-me com o prazer do sonhar
Carregue-me para a tua morada
Permita-me lançar todos meus desejos
Dê-me sua licença para exterminar a inquietação da expectativa
de cruzar minha visão com a arte do seu corpo
Entre o vai-e-vem
Sufoco
Angústia
Inquietação
Aquela espera, no entanto, é válida
Oh, Meu Deus, como é bom se declarar
Mesmo para quem não me quer escutar
Mesmo para quem apunhala o coração indefeso
Mas para mim não importa o resultado
Sempre continuarei com essa vontade louca de conquistar
De me entregar
De viver
De conhecer
De me deliciar

sábado, 23 de agosto de 2008

Pensamento Vago


Uma vontade expressa, mentira
Aquele encontro marcado, lembra?
Sorrisos voluntários
Mudanças perfeitas
Caminhadas longas
Expectativas fugazes
Resultado nulo
Mais um abraço de complacência
Outro aperto de despedida
Dois caminhos distantes
Linhas do tempo diversas
Experiências separadas
Ajuda mútua inexistente
Brincadeiras maldosas
Sentimentos ignorados
Dúvidas exageradas
Vou me retirar
Já estou correndo
Nunca mais olharei para outros ângulos
Cairei de cabeça no céu
Pegarei um ramo de nuvens para você

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Fugacidade do Desejo


Algo inesperado tirou-me a bonança
Estava tudo estabilizado
, parado, tranqüilo
Chegou você
Antiga estranha, distante, irrelevante

Caiu de pára-quedas pisando sobre minha sombra
impedindo meus movimentos,
entalando meus suspiros,
diluindo alguma droga no meu sangue perdido

Por trás daquela alegria,
do olhar combinado às vontades conhecidas de apenas um coração
Inverti a imagem de meu espelho,
querendo te roubar o reflexo, o amor, a paixão

E cada vez que te mirava,
meu alvo se transformava em algo muito maior do que há pouco se mostrara
Teus toques inocentes, quase criminosos,
me fazem companhia nos momentos de solidão
e em cada pílula de libido ingerida,
te imagino deflagrando-se contra um crime, uma tradição

Sendo eu o teu cúmplice
Não vejo outra alternativa se não a do (des)gosto
Pelo seu corar
Vejo a esperança de conquistá-la
Tão longe, tão perto, tão sagrada, tão profana

Mas por tudo isso e,
por estes momentos quase que perdidos, só desejo uma coisa:
Criar asas e te roubar de tua casa

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Vestimentas Verídicas


Agora acabo de me flagrar, me degladear com uma prazerosa vontade de escrever
Mesmo que seja algo estúpido, insípido, branco, sem sentido, indigno de leitura
Quero o despertar da libido
quando solto os meus escárnios,
quando baforo palavras intrépidas complacentes com palermices

Jamais pensei em te magoar
Também não penso em despojo próprio
A maior tolice é querer o que se pode ignorar com a mais pura sinceridade
Que tal mudar?
Não bastam as leis para nos embutir juízo?
Nada pode paralisar o que nossos olhos denunciam
Trancada por dentro, você apenas me mostra o quão frágil você está

Jazendo nos jardins da saudade,
seu toque, seu sussurro, seus olhos
são provas perfeitas de carisma, de agonia, de desejo
Lembre-se, pequenina, você tem alguém a quem pode decepcionar
Eu defendo os fracos, não os medrosos
Que tal vir para meus braços?