Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Aquarela


Com um punhado de tinta
Decidi colorir um pouco a monocromática tela de minha vida
Um pouco de amarelo nas bordas,
de azul no centro,
Jogo um preto aqui
Um verde acolá
Sombreio as partes negras
Pinto de rosa as passagens felizes
Desenho quimeras para os pedaços tristes
Tonifico os momentos mais importantes,
E reservo um pedaço deste quadro para saborear o poder das criações espontâneas,
das invenções quase que meditadas:
para marcar, registrar, não mais esquecer os vestígios presididos pela imaginação

Neste mundo artístico
Incluo todos os sentimentos exacerbados
jogando todas as cores conjuntamente na parte central superior
E, deste modo, metodicamente pintando,
classifico todos os rumos e cicatrizes de minha pequena e irrisória memória
Termino fechando todo esse espetáculo com apenas uma certeza
De que o espetáculo da vida,
ainda que irreversível e único,
pode ser rememorado, recriado, reaproveitado
Por isso eu crio, crio realidades que ainda nem existem
Com pessoas imaginadas
Nos momentos mágicos da vida

E neste teatro
Resta dizer que só há uma exigência:
querer você também pintar a minha, a sua, aquarela escolhendo, a dedo, a cor, o lugar e o desenho de suas telas

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