Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Reflexo


O que nos acontecerá quando a noite raiar
brotando dos medos sangrados da dor da perda,
moídos pela iminência da descoberta,
do amor desperdiçado pela aventura insegura?
O pensamento trocado pelos trocadilhos perigosos
da confusão de um nome
do toque inseguro de uma pergunta inesperada
para uma resposta embebida de calúnia, de estória
O olhar, frio
O sexo, sombrio
Tudo pela mentira
Tudo de mentira
As sensações, os desejos, as indagações
Tudo de mentira
Tudo na mentira
As roupas no chão
O suor condensado
Os sussurros altos
Fazem tudo parte de um teatro

Por medo de mudar
Me mantenho inseguro
Entre andar e ficar parado
escolhi cavar um abismo
no pedaço que me mantém equilibrado
entre a morte meditada,
do envenenamento simbólico,
da dor que não afaga

domingo, 28 de setembro de 2008

Conhecimento


Empreste-me pedaços de seu discurso para que eu possa usá-los como meus
Suas palavras parecem tão sólidas que gostaria de derretê-las
Doe-me dúzias de seu “eu acabado” para que eu possa me construir,
Procure um pouco de tempo para me ensinar a me redimir,
Guie-me por dentre caminhos tortuosos, de elevada dificuldade,
pois nenhum enigma seria capaz de detê-lo, você conhecedor da vida,
dos conflitos, da conquista
Seu “eu” uni-facetado, conhecedor do retrocesso temporal
Como é complexo fazer do múltiplo uno
esquecendo da unidade maternal
Vamos voltar ao desconhecido
e esquecer o que temos que aprender
Não quero esse mundo de conhecimento
Quero apenas viver

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Palhaço




Quero chorar as lágrimas postiças desenhadas em meu rosto
Borrando a pintura caricata que às vezes não lhe diz quem sou
Para te mostrar meu verdadeiro valor,
corto a carne doentia,
chupo teu sangue frio
costuro o buraco aberto
Teu pulmão desgastado,
Teu coração angustiado,
Tua cabeça enferma
Teus lábios ressecos
Vou tudo esquecer
Para te lembrar que sou um palhaço
Pronto para vencer

terça-feira, 23 de setembro de 2008

Campo de Batalha


E você luta,
luta, mas nunca chega lá
Caminha léguas e pára aqui
Indeciso sonhador
Careta, menino
Jogou tudo ao mar
Inocente, não sabe o que é paixão
E lutamos,
Por tudo que um dia vivemos
Mas a batalha é dura
Os corações, fracos
O tempo passou e ainda somos crianças
Apunhalado por quem você mais confia
Sente apenas o sangue escorrer
Quente e calmo pela confiança branda
Guerreando com todos
Por tudo que eles falam
Contra tudo que eles são
Querendo flutuar, esquecer
Agredita que nada aconteceu,
que tudo aconteceu
E abraços não mais são necessários
Para um guerreiro que parte,
Para um guerreiro que morre,
Para um guerreiro que ama
neste campo de batalha,
nesta vida, aqui, imposta

O que a poesia (não) faz


A poesia esquece que não quero demonstrar tudo que sinto
Clareia o que desejo manter obscuro
Vicia-me a libertar-me dos vícios
Não diz o quanto eu necessito disso
Evidencia o quão frágil estou
Não esconde minhas falhas
É sentimental por demais
É retrato momentâneo,
ingrato
Revela segredos indizíveis olho a olho
Não nos deixa descer antes
Impede que voltemos um passo
Nos massacra com verdades desejadas
Deixa os pés frios, sem lençóis
Me deixa pensativo,
sozinho...

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

...


aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Escultura


Queria poder olhar tua nudez
e reparar todos os detalhes dos poros da tua pele...
para saber se a perfeição se reproduz em laboratório

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Untitled


Não me pergunte por qual caminho vou
Seguindo com os olhos vedados
Ouvindo o som
suave
doce
vermelho
amargo
Salto o escuro
Pinto o colorido
E se eu não quiser partir?
Você virá/ficará comigo?

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Numa Noite


O silêncio me machuca em cada chegada,
em cada despedida
Onde fora você?

A saudade latente
alongada pelas horas arrastadas
não fora suprida
Lágrimas desperdiçadas!?
E sua casa?
E nossa partida?

Como se nada tivesse acontecido
Você cruza
Mais uma vez eu fiquei
Sem uma noite, só
Escondido na minha máscara,
que todo o medo mascara
Você sorrir,
minha dor

Você figurara
Como mera conhecida
Apenas uma menina que encontrei algum dia na esquina

E meu coração te arrebatou
Como o sonho inacabado
No meu quarto tudo ficou,
como em cada temor,
como em cada amor,
como em cada partida

Insuficiência


Quando somos os personagens das tramas de outras pessoas
E temos como função desenlear a rede confusa
Sobre os sentimentos ardentes
Do pulsar contínuo
De poemas obscuros
Da imaginação fria
Escrevendo para honrar a dor
Fugindo a todo momento para encontrar o exílio
Num barco que vai afundando
milímetro por milímetro junto com nosso prato
Sem ninguém ao lado
Sobre os pensamentos perdidos
Relembramos tudo que sentimos
Apenas para dizer: “eu te amo”

Mas isso não é suficiente
Para me tirar deste meu lugar
Mesquinho, indefeso, confuso
Nesta encruzilhada,
Nada há para onde olhar
O passado já passou
O presente está perdido
O futuro não é contínuo, não é amigo
E eu, aqui, o escolhido
Qual caminho percorrer, quando não se sabe o porquê viver?
E se você está aí
Porque não grita por mim
apenas para ecoar
sobre a parede, pela janela, no imaginar
sua sede de paixão, ardente em nenhum coração?

domingo, 14 de setembro de 2008

Para Esvair


Quero escrever para explodir
Concentrar a música nos ouvidos
Dissipar as críticas
Esquecer quem sou
Para não ler os poemas de outrem
Fingir não ver meus erros
Fingir que estou num caminho seguro
Enganar-me com os ferimentos abertos
Contentar-me com as partidas agendadas
que na fadiga crescente,
da crucificação diária de cada olhar,
do martelar das palavras,
do achar de uns,
do querer de outros,
me desespero nadando pelo deserto do fundo do mar
Escrevo para esquecer de procurar as respostas para minhas dúvidas
Para adiar o dia do encontro final
Para mudar a essência
Caminhar vagarosamente
Eliminar os flagelos
Traçar retas, sem paralelos
Fugir a todo tormento,
a todo momento

Homem Barroco




No paradoxo barroco
Divido entre o real e o imaginário
Entre o certo e o errado
No limite do sagrado com o profano
na penumbra da luz branca
Sempre buscando o caminho mais tortuoso
Da teatralidade nascente
Nessa eterna fuga
Recuso-me a combater o medo
Fazendo de tudo bolas de neve
Soprando o vento das mágoas
Vivendo numa realidade morta, viva
Tudo me apavora
E eu penso: “não me deixe agora”
E porque ir por esse caminho?
E porque logo esse caminho?

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

Sorrisos


Os sorrisos são sentimentos tátil-visuais
Expressos de diversas formas
Nos momentos de dor,
nos de felicidade,
nos de surpresa,
nos de aflição

Facilmente desmascarados
Existem os tranqüilos,
os acanhados, os redentores, os estimulantes,
Existem também os que coram, desandam
Os que balançam o coração,
que retiram a terra de órbita, pura diversão
E até nos momentos de tristeza lá está o sorriso,
teimoso em se mostrar

Entre sorrisos minguados, acanhados
entre os disfarçados e perigosos
Todos tiram um pedaço de sua mascara,
quando mostram o que de dentro exala

Entre todos esses sorrisos,
o meu é o da metade
Quase que forçado, artificial
Incompleto, simbólico
Sempre a esperar algo terminar
Mas ainda assim, alguns dizem ser bonito,
ainda que desperte a sensação de postiço
Esse é meu sorriso
Que quase não quer se mostrar

E nessa imensidão de pluralidade
Cada qual escolhe seu tabuleiro
Para manifestar esse grito calado
da dor, do rancor, da felicidade, do amor
que do peito se revela
e que na alma nos acalenta

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

Por traz da mascara de Pierrô


Estou cansando de todas as baboseiras que me circunda
De promessas feitas e quebradas
De personalidades formadas
Das acusações infundadas
Das palavras trocadas
Dos votos de paz
Cansei de perder para o mundo
De tentar ser um cientista social
De explicar o desinteressante
De gostar do ridículo
De cultivar o que a moda ultrapassou
Cansei de tentar mostrar que devemos ser melhores
de embutir a “reavaliação pessoal”
Desisto de tentar
Não quero mais implorar

Lembranças


A lembrança de uns poucos momentos,
a lembrança de "pouca" importância,
a lembrança do desespero,
a lembrança de quem ama
Essas são todas lembranças
De um amante,
De um pilantra

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Memórias Abastardas


Esqueça o passado como artefato negro
Você disse que iria partir
E, agora, o que será de mim?
E nosso passado, recente
Claro como a alvorada
Fresco como a brisa
Teus abraços
calorosos
ofegantes
libidinosos
E teus sorrisos
E as estrelas que olhamos juntos?
E a canção do mar orquestrada por nossos ouvidos?
Caberia tudo isso no porta-malas da partida?
Os tantos beijos
Os desencontros encontrados
A dificuldade do amor
da complacência
do temor
Tantas coisas já temos para contar
Os flashes rememorados
As primeiras experiências de nossas vidas
Tudo acontecendo quando estávamos juntos
Não são suficientes para te fazer lembrar o que somos?
Ou o que nos tornamos?
Nossas corridas na praia
Deitando na areia molhada
Sussurrando sonhos distantes
Imaginando-nos como pobres amantes
Tudo isso não justifica o porquê da paixão?

Decido, por hora, me calar
Conter todos os gritos abafados, silenciados pelo penar
O que posso te dizer
É que eu te quero para mim





Ainda que seja para me iludir

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

No meu Quarto


Detrás da porta
um par de chinelos descansa ao lado de alguns CDs e toca-fitas
A fraca luz do abajur proporciona a penumbra ideal
Para uma noite de melancolia, para uma noite de reflexão

Sobre as estantes, os livros
Nas prateleiras, algumas fotos
Por cima do móvel marrom, a vida virtual
Agrilhoados na parede branca,
manchada com alguns poemas de pouca importância,
um quadro, dois cartazes, três chapéus, um porta retrato
estes repousam tranqüilos
baratos, esquecido, guardados

A janela coberta por uma fina cortina
está logo acima da cama
Na mesa de estudo,
um mapa, algumas cartas, um pijama
dividem espaço com o amplificador, que está logo abaixo, na decoração
O violão, as bolsas e a solidão
ganham também algum espaço nessa pouca imensidão

Sobre os fios que correm para cima do teto
Um outro punhado de CDs se descolam
Mais uma vez o garoto dorme
Neste quarto terraço, sua origem, seu laço

terça-feira, 2 de setembro de 2008

(In)esperado Sentimento


Na ambigüidade do olhar
com a fusão de simples palavras
Brotou algo inesperado
A negação se desfez
O medo fora combatido

Como será conversar consigo mesmo
Quando a melhor amiga não é a consciência?

As válvulas de escape vencidas
Não mais suprem as necessidades alarmantes
Naquele momento exato
O tempo parou
Estagnou os sentimentos
A Terra orbitou sobre nós
O sol da meia-noite nasceu

Ninguém acreditou naquele paradoxo natural
Até mesmo seu feitor relutou
Perdido em suas palavras
Deixou-se ir entre os alísios tropicais
de epopéias construídas
no imaginário de nossas mentes infantis

Escrevendo poemas para outrem
Procuro traduzir o indecifrável
Tentando por em palavras o que não se entende dos atos
Mais uma vez, aqui, me isolo, no meu quarto
Perguntando-me aonde queremos chegar...

Buscando um desejo obscuro, (im)possível
Imploro para a memória não falhar
Querendo rememorar tudo aquilo, que o aquilo me fez passar