Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

domingo, 26 de outubro de 2008

Às Vezes Realmente Eu Penso Isso

To aprendendo que é necessário aprender a se anular
Mas que também é necessário anular quem se ama
Saindo aos pouquinhos, de fininho
A solução dos covardes
dos medrosos
Espelho do tormento
Versos obscuros
Dor reprimida
Olhos perdidos
Vontade extinta
Você não se afasta
Você não se aproxima
Não me afaga
Não me denuncia
E eu, aqui, pensando em você
No que fazer
O que você está tramando?
E, às vezes, eu realmente penso que você não se lembra de mim
Você se esconde
Foge
Corre
Aspira sua vida da minha
Traga todo meu sentimento
E se vai
E me faz promessas
Eu espero todos os dias
Esperei um dia inteiro
Você não me avisou que ia partir
À noite não me bastou
A madrugada está se acabando
Hoje eu não saí
Aqui fiquei
Apodreci
Sem você,
sem mim

sábado, 25 de outubro de 2008

Quixotesco



Nesta história, eu sou o Quixote
Perdido na ilusão
Sem caminho para começar
Com moinhos pra combater
Fazendo de minha vida uma Cruzada,
uma besteira
Carrego uma bandeira que não vale nada
Salvo, algumas gorjetas

Com um escudeiro blasfemador
Que revela meu mundo profano aos deuses
Vivo na espera de um herói, de fantasias
Mais uma vez você fugiu, sem explicação
Meu burro alazão empencou
Meu rosto de palhaço à revelia,
você cuspiu
Fez dele o que queria,
Partiu...

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

O caminho para algum lugar


Quando o céu resolver cair
Você vai encontrar um caminho de volta
Os crucifixos estão sendo quebrados
É essa vida que se arrasta
Drogas para esquecer o subúrbio de nossos corações
Ópio para estacionar essa fome de desejo
Estou cantando a nossa canção
As árvores mortas são para você, querida
As sementes envenenadas, para mim
E se continuássemos vivos?
Os bebês ainda virão
Nosso futuro realmente estancou
É essa estrada muito esburacada
Minhas pernas, recém-mortas
Teu sorriso, por demais, triste
Nossas mãos não estão dadas
Você está de costas
São meus pulmões enegrecidos
Que não tragam mais a vida que você respira
É meu coração partido, que partiu
Que dissipa o teu amor
Sozinho neste escuro
Queimando cada papel escrito
Às vezes me rasgo
Em cada palavra de amor
Mas os padres não estão aqui para me ver
Queira, por favor, ligar a televisão
É tudo isso que me corrompe
São os meus amigos
Sou eu mesmo
Gostaria de estar com você
Talvez assim eu entendesse como meu câncer se alastrou
Abonar cada falta, como se nunca estivesse acontecido
Negar todo encontro errado
Lembrar os momentos felizes
Mas minha memória já não me ajuda
E quando é que vou parar com tudo isso?
Afaste-se de mim
Deixe-me caminhar
Neste maligno atalho
Escolhido sem compromisso
Escolhido sem mim mesmo, sem você
Que fora indicado por aqueles que partem
Sem sentir o vazio daqui
Desprezando esse nada que brotou
Nesse agente da dor
Na experiência de existir

domingo, 19 de outubro de 2008

Genealogia de um Perdido


Na Genealogia da existência,
de uma existência,
da minha existência
Tento encontrar
Algo para te dizer
De onde provém tudo que me criou
Tudo que me formou
Não me restam palavras
Apenas tiro do bolso pequenas e irrisórias metáforas
Rasas, profundas, jogadas
Você não me entende
Tudo que escrevi fora o que não sou
Foi o que fui
Foi o que me restou

Você não vai me deixar partir!
Na esquina daquela praça,
minha dívida se estende
para fronteiras desconhecidas
da tentativa de entender
o que faço por impulso
o que fiz por tesão
o que vou continuar fazendo por paixão
Mas em toda essa caminhada,
me mantenho perdido
afogado no meu próprio abismo
guilhotinado por meu destino

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Um Dia de Trabalho


Envolto de luzes padronizadas
Com o radiador vibrante
Todos olham para o relógio
Clamando para que o ponteiro ande
Sento-me numa máquina
Diferente pelas mesmas diferenças das demais
Sozinho, dentro de uma sala
Com a chuva que passa lá fora
Deixo o mais bonito se perder
Pela obrigação que há de se cumprir

Não existe nenhuma diferença
Todos lá têm um mesmo uniforme
Tudo se inicia em determinado momento
A regra é clara, só há tormento

Pego meu jornal e embarco num caminho sombrio
Sem caminho de volta
Retorno aos tempos da escravatura
Mas minha linda manhã está acabando
Perco a vida que caminha lá fora

O som ininterrupto do laboratório ecoa na minha cabeça
Tudo parece morto
Sem sentimento que os remexa
As cadeiras desocupadas
Aquelas lâmpadas queimadas
Não há coisa pior que a solidão
Quero sair desse inferno, são

domingo, 12 de outubro de 2008

Jogo de Interesses


E você conseguiu rasgar o bordado
Sobre efêmera companhia ,
me pergunto como vai ser
quando restar apenas o travesseiro

Enterro mais uma noite
mais algumas horas
mais pensamentos
E na aurora que desfalece a dor
num barco, sobre as trilhas do mar,
cavalgo num mapa desconhecido

Quem sabe algum dia eu me encontre
Quem sabe algum dia eu te encontre
Quem sabe algum dia nos encontraremos

Voltamos à estaca zero
Você me dispensou,
me iludiu,
me ludibriou
O vinho não mais me embebeda
Suas palavras: facetas, mutretas, gorjetas
Precisa-se de correção?
Receoso, desejo!

É urgente controlar o que se controla sem consentimento
Maquinar uma fuga
de tudo que monopoliza o sofrimento
de tudo que vazio me faz seguir
do seu coração perigoso que medo faz existir

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

A alguém tão perto, tão longe


Brincando, apagando, pintando
E você vai partir?
As fotos de antigamente
O vento, a cadeira, o seu lugar
Quem irá preencher?
As conversas cotidianas
Nossos olhares trocados, pagos, doados
E os olhos do Estado cansarão?
Cada toque
Cada beldade
O sentimento marcado
E aquele poema que eu não li
O que você deixou por mim?
O que você não falou para mim?
Finjo que esqueci?
As desculpas meramente ornamentais,
Palavras criadas
As mensagens deletadas
Sua presença sempre esperada
Tudo fica na memória
Nada se dissolve
E você ainda quer partir
Mesmo sem mim

Seus pensamentos fervilham
E outros vêem o que a boca não deixa revelar
Todo seu tormento
Todo seu penar
Mas ninguém se lembra
Ninguém sabe os ventos que cá vieram soprar
Ventanias incontroláveis que (in)felizmente não tem previsão de cessar
No entanto, eu ainda tento
Desesperadamente te dizer
O quanto eu quero você
Perto de mim
Ouvindo o que meu peito errado não quer assumir
Que os medos amedrontados se obstinam de declamar
Para limpar toda carapaça de lama
que minhas roupas brancas
insistem em carregar
Só por palavras, porém, não encontro a minha mensagem
Tenho consciência de minha limitação
Mas por ora, essa é minha emoção,
minha vontade,
meu tesão

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Alguns Pensamentos


Mais uma vez estou aqui
Perdido, querendo achar
alguma saída deste lugar
que tanto me dói o coração
Frenesi perdido
Minha ilusão
Passos gastos de um pensador
Memórias esquecidas de um sonhador
Olhos mirando para uma realidade fictícia
Dedos tocando o veneno piedoso

Mergulhamos num mar de sangue
Os poros já estão abertos
Vamos continuar com esse martírio?
Na noite silenciada,
as promessas se quebram,
como se nunca tivessem existido
Os pés continuam caminhando
Sozinhos, só deixam marcas
Num passado que se distancia
Num passado que nos flagra

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Inspiração


Eu não sei o que essas mentes incessantemente cantantes
Vivem cantantemente pensantes
Na pensantemente possibilidade cantante
Eu não sei por que meu coração invariavelmente frágil
Vive fragilizadamente confuso
Na confusamente presença tua
Vivendo constantemente em ti
Aprendi intimamente em mim
Que posso viver em tu
Através, assim, do aprendizado fragilizadamente cantante
Passei a viver intimamente confuso
Na variabilidade da mente

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Mural


A poeira acumulada sobre lençóis amassados
de uma cama burguesa com aspirações de desejos
O ventilador corroído pela maresia
Os livros amarelados, nunca lidos
apenas guardados, esquecidos
As cartas nunca findas
Os pensamentos inacabados, errados, indecorosos
O incenso aceso para afastar o olhado
Uma “Espada de São Jorge” na porta de entrada
A mesa suja de refeições anteriores
contrastando com os pratos depositados na cozinha
por onde baratas e insetos povoam a escatológica ausência de vida
Os sapatos distribuídos pelos diversos cômodos
As roupas mais arrochadas, panos de chão
A TV ligada sem conexão, sem antena, sem fiação
A torneira aberta, desperdício
Lâmpadas quebradas,
sentimento magoado
Violão sem cordas
Não há música, alegria ou diversão
Ali jaz mais uma vítima
da melancolia incontrolável
Fardo das mega-populações não povoadas
Dos distritos sombrios do coração
De uma pessoa que morre em vão
Sozinha, sem atenção