Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Estruturas de Concreto


As estradas de vinho
Porto de corações feridos
Balões de imaginação
O vermelho ódio
Dedos de pinça
Homem gafanhoto
Portões do som
Corrosão da crosta
Literatura surreal
Bordadeira na escada
Linha roxa
Sozinha e triste
Cansaço da volta
O carro em minha direção
Cruzei o campo
Comiseração virtual
Heróis de papelão
A luz que dissipa
Estou flutuando
Cai no porta-retratos
Guardei meu guarda-roupa
O crescimento horizontal
Os pêlos no abdômen
Lentes refletindo o sol
Toneladas de dejetos podres
Escoei por minha torneira
O caminho dos esgotos
O engodo dos ratos
Os pássaros cantando,
gritando de dor
Palavras de socorro
Caminhos de algodão
Tudo está alvo
Fiquei tão branco
Andando pelas águas
Os pingos estão pingando
Estou escutando as pegadas
Meus pés sujos
Esqueci de meus lençóis
Medo da escuridão
Não quero sonhar
O que será que acontece em nossas veias?
O albatroz lá em cima
O vento rugindo
O suor evaporou
As árvores estão falando
A morte, matando
Há crianças gemendo
Alguém está fazendo sexo
Escrevendo
Escrevendo
Escrevo
Errei
Cantei
Está desafinado
Voltei
Cheguei
O labirinto
O eco
Submarino sob as terras
Está em baixo de meu apartamento
Os aviões não conseguem voar
Só eu que agora afundo
Estranhos na rua
Me vi agorinha no espelho
O combate tenebroso
Eu posso
Olhei aquele menino
Não falei
Não tentei
Os agasalhos dos cachorros
Errei aquela palavra
Bati no porta-malas
Abri a gaveta
Mergulhei
Sequei
Peguei a agenda
Denotei
A energia está se gastando
Cuidado com os avisos
Perigo ronda à cidade
O olho mágico
A reza tem poder
O círculo tem perímetro
Equilibrei-me na corda bamba
Ondas de radiação
Hiroshima
Japoneses
Minha terra
Meus prazeres
Alusão a velha história
Os idosos são conhecimentos
Aquela folha acabou de cair
Os vegetais estão vegetando
A doença, com certeza, está doente
As espinhas são tão ruins
Meu cabelo despenteado
As pessoas que irão me ler
A decepção do encontro
Tudo vazio
O vizinho já mudou
O “ABC”
O ladrão
Desliguei a televisão
Jornal noticiou
Respirei
Toquei
Tentei
Abri
Engoli
Sozinho
Sem mim
Achei
Perdi
Escolha social
Preconceito
Esqueci
Eu posso
Consegui
Você partiu
Fiquei
Fui
Parei
Senti

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Entre o Colapso e o Desterro


Querendo explodir em mil pedaços
A arrastada vida me aprisiona
À beira do colapso
Vítima de palavras
Submisso a alguns medos
Entorpecentes derrotas
Lágrimas rancorosas
Maquiagem borrada
Vômito de horror
Quebrei aquele anel
Romântico sádico
Masoquista sentimento
Lembranças enterradas,
desenterradas,
sacramentadas
Preço do desprezo

Exílio da personalidade
Especialista em mentiras
Patologia incurável
Crítico sedutor
Artificialidade do pensamento
Negação ao apego
do aperto de meu peito
Poema sem conclusão
Fatalidade sem desterro

sexta-feira, 24 de abril de 2009

A Vergonha de Meus Desejos




Começo com desculpas
Por tudo que um dia fiz
Que deixei de fazer
Por não ser quem prometi
Pelos olhares que neguei
Aquele toque,
Aquele toque,
Maldito toque
eu esqueci de repeti-lo
Perdão pelos beijos que não consigo
evitar o desejo
Meu olhar imóvel quando você passa
As mãos que ardem à revelia da separação
Esqueça minha humilhação
por instrumentalizar o objetivo final da minha existência
Por buscar, a todo custo, sua presença
Por não me conter na sua ausência
O desespero da partida
Essas poesias ridículas
O silenciado protesto
O calado discurso
Um coração mudo
O amor infantil
Meu Complexo de Peter Pan
O calafrio do primeiro encontro
A dúvida do futuro
A clemência,
redundância
e medo do presente
O que não quero ser
A fuga do meu sofrimento
A vergonha de meu desejos...

terça-feira, 21 de abril de 2009

O Que Se Passa?


Eu posso sentir toda essa dor
Eu posso senti-la
Eu posso senti-la
O que se passa?
O que se passa para eu ficar assim?
E eu me pergunto o que fazer
quando sei que todos nós caminhamos para o fim
E peço para você não partir
Não agora
Logo agora?
Meus dedos desaçucarados
Os pés que caminham sem rumo
E não quero que você vá
Olho para tão longe
O vento que leva meus cabelos
E eu só quero chorar
Ficar só
Magoar somente a mim mesmo
O que se passa?
O que se passa no mundo lá fora?
O ninguém que fazem de mim
E passo despercebido
A cabeça baixa
Eu quero levantar
À sombra de meu corpo
Desabo a acreditar
que posso vencer
A fúria da mudança que aqui nasce
E o que se passa?
O que se passa aqui dentro?

sábado, 18 de abril de 2009

Meu Partido de Vida


Esquecer tudo
É isso que procuro
Resetar os medos
Suprimir as ideologias
Sambificar meu rock
O menino com vontade tropeçou
E esqueceu que tinha de fazer tudo diferente
Os políticos terminaram suas campanhas
Teremos ainda algo a se fazer?
Ah, estou jogando tudo fora
O mundo perdido
O garoto questionador
A criança se calou
Que tal ouvir um pouco mais?
O seu risco suspirou
E ele só precisa agora de um amigo
de inimigos de prazer
E eu não quero mais mudar o mundo
Sonhos de adolescente
Fase passageira
Espero que passe rápido
No fim,
tão conservador quanto nossos pais


quinta-feira, 16 de abril de 2009

Num dia qualquer


Amar
Sofrer
Querer
Não poder
Olhar
Você
Sorriso
Abraços
Déjà vú
Lado a lado
Carência
Solidão
Tocar
Sentir
O cheiro
A pele
O Som
O Apego

Alguém aí do outro lado pode dizer que me ama?

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Nossa História


Tão distante daqui
Dedilhando o chão
Meu violão ainda soa
Esse velho caminho
Pelas mesmas estradas
A turner da esperança
Os galhos das folhas ainda estão queimando
Aqui, sem você
Com um copo na mão
Meu papel
Meu coração
Escrevendo o que dá na cabeça
Omitindo o que for perigoso
A história se repete
Sem controle
Longe de mim mesmo
Essa estrada está mais distante,
você não acha?
A lua não pára de brilhar
Você é tão indelicada
Nem sequer me pergunta o que acho de tudo isso
Ta tão frio
Ou será por que estou sozinho?

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Carta ao Papai

Os anos estão passando.
Mais uma vez separados.
Não existe você para apagar a luz de meu quarto.
Continuamos encontrando os mesmos velhos medos.
Medos de infância.
Da opressão.
Realmente eu queria que você estivesse conosco.
Tudo podia ter sido tão diferente.
E parecemos mais dois estranhos.
Nunca entendi por que você se afasta tanto.
E eu ainda choro.
Pode acreditar, eu ainda choro.
Não pelo que você hoje é, esse ser tão desconhecido.
Que não sei por onde anda,
nem o que faz;
que não sei a rotina;
que desconheço os amigos;
que não sei onde mora.
Um ser que se perde dentro de si mesmo.
Que perdeu o melhor da vida.
Buscou o desencontro fatal.
E todos me dizem que esse não é o melhor caminho.
Mais tarde irei me arrepender.
Mas que posso eu fazer?
São tantas coisas juntas.
Todas as suas omissões.
E me diga quantas vezes você viu aquele vídeo?
Você mudou?
Tento fingir que nada aconteceu.
Mas sempre tem uma data
que me faz o desfavor de lembrar
o que quero a todo custo esquecer.
Os tempos em que você me acordava;
que íamos caminhar na praia;
que eu ficava na casa de vovó.
E eu quase esqueci seu aniversário.
Será culpa desse monstro,
pronto a me devorar?
Como eu queria que você estivesse aqui.
Mas você não está.
Mais uma vez nos meus momentos de medo,
o que será que você deve está fazendo?

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Replicas, Sem Cor


Doce mel
Minha língua
Carnificina
Mãos dadas
Lado a lado
Corpo a corpo
Olhos sentidos
Frio castigo
Noite luar
“Isso tinha de acontecer”
“Nada disso pode se repetir”
E você me pede para eu tirar essa expressão de dor
Mas me parece, querida, que você não nota
que eu só preciso que fique um pouco mais de tempo comigo
“E se “para sempre” é muito tempo”
dizia outra vez o poeta
“acho que esse é o tempo que eu pretendo te amar,
mesmo sem perceber,
apenas para te gostar,
gastar a magoa, sem magoar,
desejar por desejar”

domingo, 5 de abril de 2009

Cinzas


Sangue concentrado
Na camada mais fina
Cinzas da vida
arrasta o perigo
Dura verdade
Amador de perdões
Reprodução do vazio
Todos aqueles dias
Já tinham passado
Reviveu um cadáver putrefato
Hiato
O poeta que não escreve com a pena
que usa a ponta do fuzil melada de pólvora
rabisca seus medos
que bate um a um a sua porta
Cinzas de palavras
Ditas a revelia
De maneira prática
Acinzenta meu dia
O temor da segurança
da nuvem de chuva cinza
Os restos de pó de ferro
que jogam fuligem nas sinas
O terror dos hospícios
De paredes cinzas
Mel agridoce
Um corpo, se descombina