Um poço de lama. Alguns grãos de desejos. Um oásis de esperança. Um deserto de desespero.

terça-feira, 24 de março de 2009

Apenas Para Lembrar


Preparei o café para afastar o sono
Opção que você me obrigou a recorrer
Ventilador virado para a janela
A cidade tão apagada
Era noite, quente, solitária
E fico reparando a vida pela brecha de minha porta
O pobre cachorro que segue mancando
A menstruação que chega antes do tempo
Pessoas que se despendem para nunca mais
Trabalho cansativo
de um corrupto sem abrigo
alojado na casa de Barrabás

Fico parado, congelado, estático
As formigas trabalham,
varam as madrugadas
E eu escrevo poesia apenas para me ocupar
De um tempo que não tenho,
que invisto em tormentos
que eu insisto em lembrar

Vou sair esta noite
Vagar para esquecer
Já que um velho mendigo
Sábio, vivido
Um dia me alertou:
esquecer de lembrar é o primeiro passo a se dar
Como um bom discípulo
Fiel e acolhedor
Não sai naquela noite
Ocupei-me em organizar
Todas as nossas fotos
Apenas...
...apenas para lembrar...

quinta-feira, 19 de março de 2009

O Outro


O outro na extremidade
De uma margem vertical
As nuvens no céu
Chuva que goteja a janela,
que descansa em teus lábios
O vento que sopra os cabelos
O olhar que namora o reencontro
O outro na extremidade duvidosa
Com a mesma lua que consagra
o dejavu
As imagens soltas
Teu corpo nu
Com mãos dadas
O outro na extremidade ressente
Do por que de florescer
A primavera que já acabou
O inverno ta congelando
E a lareira volta a esquentar
A poltrona do medo
De uma porta aberta para o reinício
E o outro continuará na outra extremidade
A espera de uma escolha
Protelada pela angustia
do medo de se apagar aos poucos
ao invés de se consumar de vez...

quarta-feira, 18 de março de 2009

Será mesmo a morte a única coisa inevitável?


“A morte é inevitável”
Disse outra vez certo companheiro

A simplicidade das conclusões
A relatividade do pensamento
Gostaria de ver você evitar nossa existência
de aniquilar nossas vontades
de esquecer o futuro e só viver para o presente
para não ter medo do medo
que defronte aos nossos olhos
zombam de nossos rasos pensamentos

E de quantas drogas serão precisas
para concretizar esse seu projeto?
Esquecer a rotina
Tentar enganar o desejo...

Que tal escrevermos uma receita
sobre a conveniência de nos aceitarmos
para não digladiar num campo desonesto
que só nos traz tormentos?

As justificavas que criamos
As respostas que inventamos
Tudo para dizer quem somos
Mas tão pouca coisa falta
para sabermos que não somos nada

Valorizamos nossos medos
Fazemos o que deve ser feito
Entrementes, quem nos dirá o que deve ser certo?

Mas independentemente das reflexões,
sempre me reencontro comigo mesmo
de uma viagem que nunca realizei
batendo sempre na mesma conclusão
que o que eu nunca consegui mesmo
foi evitar meu pens
amento

Fantasia do Existir


Poderão existir palavras que eu te diga
que desmintam o que os olhos vêem?
Vou colocar toda essa dor
aqui, neste texto
só para quebrar os espelhos
que você colocou no teto

Você com passos tão pequenos
Saltando longe daquela canção
Às margens do papel
Contei outra mentira
Qualquer coisa boa era bem vinda
Mas vendi seu coração
Por esquecer o meu numa sacola,
naquela esquina
porto do medo
cais do sabor

Escolhi pisar nos cacos
Cortei para escoar
Seus olhos de qualquer coisa
Lugares para haver alguma promessa
Transformaram rios caudalosos
em terra árida, deserta

Pílulas com fórmulas de “sorrisos”
Calma programada
Conversas trocadas vestidas
O frio que se apossa
por reaver as lágrimas,
que dos olhos rolam

Afinal um bom poeta
de verdade se degenera...

terça-feira, 17 de março de 2009

Eu conseguirei ser um pouco mais forte?


Pendurar o céu num gancho mais seguro
Tocando a zabumba para acordar os espíritos
Espantei a insônia com um livro
Calei a boca com um sorriso
Confissões comprometedoras
Possessões que chamamos de amor
Lábios que se desencontram
Corpos se arrastando
Drogas para esvair
a fuga, a existência, os caminhos, a dor
E há alguém nos esperando ao portão
Deve existir uma saída
Mas você se nega a encontrar
E você realmente quer saber o que eu penso disso tudo?
Estou vomitando o passado, cru!
Devíamos voltar na brisa
Tocar com clareza, leveza
O azul do céu parece desbotado
As estrelas desligaram
E hoje eu descobri que a lua não tem luz própria
E haverá alguém me esperando em casa?
Acho melhor sentar,
nesta cadeira de rodas, rolar....

sábado, 14 de março de 2009

Só Minha Imaginação


Apertar, morder
Falar para não dizer
O tempo que passou
A ladeira em que caí
O canto que não cantei
O abraço que te neguei
O telefone que quebrou
Pena, meu amor

O espelho que não se cansa,
não se cansa de refletir
O mel em que escorreguei
Jogados só para mim
desejo, vontade, fulgor
Carne, corte, mole, com sal
Sol vespertino
Meandro perdido
no sonho do mal

Oh... são só minha imaginação

Negação desta inércia
E não te quero só para mim
Perigo constante, afiado, ardor perfurante,
Vômito de renovação
Bebida que traz solução
Coragem ficcional, artifício artificial
Ponto de interrogação, substantivo inconstante
Toque indeterminado de uma redação
que sucumbi, aos pedaços, aos prantos