Eu poderia seguir em frente
se não fosse essa vontade mórbida
de devorar meus próprios braços
Construir objetivos
como se viver no futuro
fosse mais louvável
Ignorar meus olhos
que me tira a paz
e desassossega
Que me cega e sela meus destinos e querelas
Seguir pela contra-mão e arriscar
sua imagem do passado
como se no amanhã estivesse
Queria colocar cada coisa em seu lugar
para tecer meus conflitos sem retalhos numa colcha
e embrulhar num porta-malas
tudo que se pode chamar de lembranças
Eu tiraria as pilhas de todos os relógios
se isso me garantisse parar o tempo
para, então, viver com menos pressa
Correria para o labirinto dos pirulitos
em busca de doce mais diferente
que não levasse açúcar,
nem causasse diabetes
Dando a verdadeira envergadura de cada momento,
ofereceria o soldo do santo em aguardente
para chegar mais longe na via crucis
dos pagãos condenados por usura
a pagar dor a dor cada instante de aflição
Finalmente, após notar meu delírio,
recolher-me-ía em minhas vergonhas
lacrando minha boca no escuro,
calando meus pensamentos,
com o fim último de me proteger do meu corpo,
fechado,
duvidoso,
sedento